(Carlos Eduardo Brefore Pinheiro ) (Ms em Teoria da Lit. UNESP – São José do Rio Preto;Profº disc. Teoria da Lit. e Lit.Port., do curso de Letras, do Centro Univ. Toledo) carlosbrefore@terra.com.br
Dentre as questões mais polêmicas que pairam sobre nossas instituições de educação básica, a questão do trabalho com livros literários, desde a sua finalidade até a metodologia que deva ser empregada em sala de aula, tem despertado grande interesse, dentro e fora do ambiente escolar. Discussões sobre o papel do texto literário dentro da formação do aluno, sobre o tipo de abordagem que deva ser empregada para que aja uma interação entre a criança ou o adolescente e o universo artístico da obra literária, sobre o tipo de leitura que o professor deva trazer para o trabalho com o aluno têm se tornado constantes entre os membros da classe educacional.
A necessidade da presença do livro literário em sala de aula é algo incontestável. Fonte inesgotável de conhecimentos e descobertas, a literatura, enquanto atividade cognitiva, contribui para a ampliação do processo perceptivo do leitor. O profissional da educação nunca deve perder de vista o princípio artístico que é o fundamento de toda obra literária: a literatura é, antes de mais nada, arte, é um fenômeno de criatividade que representa o ser humano, o universo, a vida por meio da palavra, numa comunhão entre o sonho e a vida prática, entre a utopia e a realidade. De acordo com Coelho: Na verdade, desde as origens, a Literatura aparece ligada a essa função essencial: atuar sobre as mentes, onde se decidem as vontades ou as ações; e sobre os espíritos, onde se expandem as emoções, paixões, desejos, sentimentos de toda ordem... No encontro com a Literatura (ou com a Arte em geral) os homens têm a oportunidade de ampliar, transformar ou enriquecer sua própria experiência de vida, em um grau de intensidade não igualada por nenhuma outra atividade. (1991, p. 25)
Justamente por ser a expressão artística de algo que é tão vasto e multifacetado como a natureza humana, e por refletir toda essa complexidade que é inata ao ser humano, ao seu mundo e a suas relações existenciais é que a literatura apresenta-se como um objeto misterioso, enigmático, fascinante e essencial. Assim sendo, a arte literária é uma necessidade vital para o homem, pois, através do trabalho com a linguagem, através do prazer estético, estimula-se a criatividade do ser humano, abrindo sua mente para a formação de uma nova mentalidade e ensinando-o a lidar com seus medos, seus anseios, seus sonhos e suas frustrações de forma a enriquecer sua própria experiência de vida.
Para o êxito do trabalho com a literatura em sala de aula, é necessário que o professor tome consciência do seu papel, como mediador entre a obra de arte e o aluno; para que este reorganize seu conhecimento e sua consciência-de-mundo, é imprescindível que, antes, o professor, reorganize, também seus conhecimento e consciência-de-mundo. Sendo assim, o profissional da educação deve se orientar em três direções essenciais: a da literatura, como um leitor atento, crítico e constante; a da realidade social, como um cidadão consciente de seu papel transformador, de seu espírito crítico e criativo; e a da experiência docente, buscando, como profissional competente, novas formas de despertar em seus alunos o gosto pela leitura e a posição crítica frente à mesma, transformando-os em leitores autônomos.
Dentro do trabalho com literatura em sala de aula, deve-se ter uma atenção especial para a leitura dos clássicos da literatura universal, aquelas obras que demonstram a genialidade criacional da mente do homem ao longo da história da humanidade. Livros estes que resistiram ao tempo, pois trazem em seu íntimo uma essência de verdade; não a simples verdade de uma época ou de uma sociedade, mas, sim, algo que é universal e atemporal: valores éticos, morais e filosóficos, medos e preocupações, indagações existenciais que povoam a mente do ser humano em qualquer período histórico. Tais livros, devido a sua essência perene, têm a capacidade de satisfazer a inquietação humana por mais que os séculos passem.
Entrar no universo de sonhos, mágico e fantasioso, de Lewis Carroll, Lyman Frank Baum, Carlo Collodi e Oscar Wilde; confrontar-se com a crise existencial dos personagens dramáticos de Sófocles, Ésquilo e William Shakespeare; chocar-se com o ambiente sombrio das histórias de Edgar Allan Poe, Robert Louis Stevenson e Mary Shelley; viajar pelo planeta Terra, por dentro do próprio planeta ou além dele com os personagens aventureiros de Júlio Verne; embarcar nas mais fascinantes aventuras com os heróis de Jonathan Swift, Mark Twain, Daniel Defoe, Herman Melville e Thomas Malory; vislumbrar o ser humano em constante luta pela realização de suas aspirações materiais e espirituais, em Homero, Victor Hugo, Walter Scott, Charles Dickens e Miguel de Cervantes; emocionar-se com as complicações sentimentais dos heróis e heroínas de Alexandre Dumas Filho, Emily Brontë, Jane Austen e Gaston Leroux; enfim, trazer para o aluno um leque infindável de aspectos da natureza e das relações humanas, inseri-lo neste universo inesgotável que é o universo da criação literária é dever capital dentro das instituições educacionais. Tarefa esta que é mais importante e que vai muito além da simples transmissão de conceitos e regras.
BIBLIOGRAFIA
COELHO, Nelly Novaes. Literatura infantil : teoria, análise, didática. São Paulo: Ática, 1991.
______. Panorama histórico da literatura infantil/juvenil . São Paulo: Ática, 1988.
LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo . São Paulo: Ática, 2002.
De tudo um pouco: resenhas; atividades escolares para o Ensino Fundamental I e II, Educação Infantil, Alfabetização; Jogos; Dicas; Atividades, Planos e projetos de aula, Textos teóricos; Artesanato; Redação; Enem; Vestibular; Revistas; Artigos; Moldes; Reciclagem...
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quarta-feira, 9 de setembro de 2009
LITERATURA EM SALA DE AULA : A DINÂMICA DE CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO
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professores apaixonados
Professores e professoras apaixonadas acordam cedo e dormem tarde, movidos pela idéia fixa de que podem mover o mundo.
Apaixonados, esquecem a hora do almoço e do jantar: estão preocupados com as múltiplas fomes que, de múltiplas formas, debilitam as inteligências.
As professoras apaixonadas descobriram que há homens no magistério igualmente apaixonados pela arte de ensinar, que é a arte de dar contexto a todos os textos.
Não há pretextos que justifiquem, para os professores apaixonados, um grau a menos de paixão, e não vai nisso nem um pouco de romantismo barato.
Apaixonar-se sai caro! Os professores apaixonados, com ou sem carro, buzinam o silêncio comodista, dão carona para os alunos que moram mais longe do conhecimento, saem cantando o pneu da alegria.
Se estão apaixonados, e estão, fazem da sala de aula um espaço de cânticos, de ênfases, de sínteses que demonstram, pela via do contraste, o absurdo que é viver sem paixão, ensinar sem paixão.
Dá pena, dá compaixão ver o professor desapaixonado, sonhando acordado com a aposentadoria, contando nos dedos os dias que faltam para as suas férias, catando no calendário os próximos feriados.
Os professores apaixonados muito bem sabem das dificuldades, do desrespeito, das injustiças, até mesmo dos horrores que há na profissão. Mas o professor apaixonado não deixa de professar, e seu protesto é continuar amando apaixonadamente.
Continuar amando é não perder a fé, palavra pequena que não se dilui no café ralo, não foge pelo ralo, não se apaga como um traço de giz no quadro.
Ter fé impede que o medo esmague o amor, que as alienações antigas e novas substituam a lúcida esperança.
Dar aula não é contar piada, mas quem dá aula sem humor não está com nada, ensinar é uma forma de oração.
Não essa oração chacoalhar de palavras sem sentido, com voz melosa ou ríspida. Mera oração subordinada, e mais nada.
Os professores apaixonados querem tudo. Querem multiplicar o tempo, somar esforços, dividir os problemas para solucioná-los. Querem analisar a química da realidade. Querem traçar o mapa de inusitados tesouros.
Os olhos dos professores apaixonados brilham quando, no meio de uma explicação, percebem o sorriso do aluno que entendeu algo que ele mesmo, professor, não esperava explicar.
A paixão é inexplicável, bem sei. Mas é também indisfarçável.
* Gabriel Perissé é Mestre em Literatura Brasileira pela FFLCH-USP e doutor em Filosofia da Educação e doutorando em Pedagogia pela USP; é autor dos livros "Ler, pensar e escrever" (Ed. Arte e Ciência); "O leitor criativo" (Omega Editora); "Palavra e origens" (Editora Mandruvá); "O professor do futuro (Thex Editora). É Fundador da ONG Projeto Literário Mosaico ; É editor da Revista Internacional Videtur -Letras (www.hottopos.com/vdletras3/index.htm); é professor universitário, coordenador-geral da ong literária Projeto Literário Mosaico: www.escoladeescritores.org.br)
Apaixonados, esquecem a hora do almoço e do jantar: estão preocupados com as múltiplas fomes que, de múltiplas formas, debilitam as inteligências.
As professoras apaixonadas descobriram que há homens no magistério igualmente apaixonados pela arte de ensinar, que é a arte de dar contexto a todos os textos.
Não há pretextos que justifiquem, para os professores apaixonados, um grau a menos de paixão, e não vai nisso nem um pouco de romantismo barato.
Apaixonar-se sai caro! Os professores apaixonados, com ou sem carro, buzinam o silêncio comodista, dão carona para os alunos que moram mais longe do conhecimento, saem cantando o pneu da alegria.
Se estão apaixonados, e estão, fazem da sala de aula um espaço de cânticos, de ênfases, de sínteses que demonstram, pela via do contraste, o absurdo que é viver sem paixão, ensinar sem paixão.
Dá pena, dá compaixão ver o professor desapaixonado, sonhando acordado com a aposentadoria, contando nos dedos os dias que faltam para as suas férias, catando no calendário os próximos feriados.
Os professores apaixonados muito bem sabem das dificuldades, do desrespeito, das injustiças, até mesmo dos horrores que há na profissão. Mas o professor apaixonado não deixa de professar, e seu protesto é continuar amando apaixonadamente.
Continuar amando é não perder a fé, palavra pequena que não se dilui no café ralo, não foge pelo ralo, não se apaga como um traço de giz no quadro.
Ter fé impede que o medo esmague o amor, que as alienações antigas e novas substituam a lúcida esperança.
Dar aula não é contar piada, mas quem dá aula sem humor não está com nada, ensinar é uma forma de oração.
Não essa oração chacoalhar de palavras sem sentido, com voz melosa ou ríspida. Mera oração subordinada, e mais nada.
Os professores apaixonados querem tudo. Querem multiplicar o tempo, somar esforços, dividir os problemas para solucioná-los. Querem analisar a química da realidade. Querem traçar o mapa de inusitados tesouros.
Os olhos dos professores apaixonados brilham quando, no meio de uma explicação, percebem o sorriso do aluno que entendeu algo que ele mesmo, professor, não esperava explicar.
A paixão é inexplicável, bem sei. Mas é também indisfarçável.
* Gabriel Perissé é Mestre em Literatura Brasileira pela FFLCH-USP e doutor em Filosofia da Educação e doutorando em Pedagogia pela USP; é autor dos livros "Ler, pensar e escrever" (Ed. Arte e Ciência); "O leitor criativo" (Omega Editora); "Palavra e origens" (Editora Mandruvá); "O professor do futuro (Thex Editora). É Fundador da ONG Projeto Literário Mosaico ; É editor da Revista Internacional Videtur -Letras (www.hottopos.com/vdletras3/index.htm); é professor universitário, coordenador-geral da ong literária Projeto Literário Mosaico: www.escoladeescritores.org.br)
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