EDUCAÇÃO E VALORES
Sociedades contemporâneas requerem alto grau de solidariedade
Não há sociedade moderna bem sucedida onde os habitantes não tenham uma boa dose de cidadania e responsabilidade social. De fato, o avanço tecnológico requer graus de confiança ("trust") muito elevados entre as pessoas, sobretudo no trabalho.
Não faz muito tempo, a própria arquitetura refletia um grau limitado de solidariedade. Nas cidades grandes, as portas eram espessas, as trancas robustas e as janelas gradeadas. As pessoas que tinham algo a perder, andavam armadas ou traziam seus séquitos para protegê-las. As ruas não eram para as mulheres. Em períodos anteriores, as cidades eram muradas.
Nos negócios, ou as transações eram à vista ou se passavam entre pessoas conhecidas e respeitadas, onde era o fio da barba que garantia a palavra.
Na época da escravidão, para garantir que os escravos cumprissem suas obrigação eram contratados funcinários pára vigiá-los dia e noite, eram os feitores. Mas adiante, era o dono do negócio que vigiava seus funcionários com o rabo do olho, sentado no caixa, ou de seu gabinete envidraçado, dando para a fábrica ou para os escritórios. Os que tinham que ser confiáveis eram parentes ou amigos. Os subalternos não tinhama maiores responsabilidades e apenas tinham que ser supervisionados para que não parassem de trabalhar. Sabotar o processo produtivo era arriscado e deixava rastros.
Com o progresso econômico e social, as cidades passaram a depender muito mais do grau de civismo da população. A segurança aumentou, a responsabilidade cívica aumentou. As cidades passaram a ser construidas para uma sociedade onde a violência ficou esporádica. Os assuntos de segurança passaram a ser cuidados pela polícia e pelo judiciário, ao invés de serem resolvidos por conta própria. A justiça por suas próprias mãos passou a ser inaceitável.
A complexidade do processo produtivo requereu maior grau de disciplina própria e responsabilidade social da parte de todos. Simplesmente, os imperativos da produtividade e da vida social harmônica não permitem mais um controle policialesco da empresa e da rua.
Com o aparecimento dos processos produtivos fortemente baseados na micro-eletrônica, com a complexidade crescente das maquinárias, com as mudanças frequentes de linhas de produção e com a necessidade constante de decisões e ajustes, os que estão lá embaixo na pirâmide produtiva não podem ser fiscalizado efetivamente, tem que ser confiáveis. Mais ainda, eles passam a ser parte integrante do processo decisório, tendo que atuar, decidir, mudar.
No caso de indústrias de alta tecnologia, a vulnerabilidade é total. O mais reles subalterno pode facilmente trocar uma linha de programação de algum computador, dentre as centenas que existem, e com isso paralizar a fábrica por longo período. Estas fábricas não mais pode se permitir funcionários descontentes. Porisso, no Vale do Silício, os funcionários a ser dispensados só ficam sabendo depois de sairem do espaço físico da fábrica. Seus objetos encontrados no escritório são rapidamente recolhidos e levados a ele depois que se dirige ao estacionamento. Nem um segundo dentro da empresa depois de despedido.
O Brasil dos contrastes: a crise de valores e a modernização do processo produtivo
O Brasil encontra-se em uma encruzilhada difícil. Para aumentar sua competitividade, tem que adotar rapidamente processos produtivos complexos onde cada membro da empresa é um agente crítico, não apenas pelo que se pede dele em matéria de decisões, iniciativas responsabilidade, mas também pela vulnerabilidade do processo produtivo diante de um comportamento anti-social de sua parte.
Ao mesmo tempo, nas cidades grandes e mais revolvidas pelas migrações, mudanças sociais e marginalização de parte dos seus habitantes, o pouco de civismo e responsabilidade social que vinhamos acumulando ao longo do tempo está ruindo. Há uma crise moral corroendo o tecido social e reduzindo o sentido de lealdade social e civismo. Há uma população marginalizada que não tem nada a perder e portanto não se comporta com os padrões de sociabilidade requeridos para o funcionamento correto de uma cidade moderna.
Ou seja, a sociedade precisa mover-se na direção dos padrões de responsabilidade social requeridos para uma vida de qualidade e para viabilizar os novos processos produtivos. No entanto, em muitos dos seus segmentos, está movendo-se na direção oposta. Anomie política, delinquência, alienação, falta de confiança no próximo geram custos altíssimos para controlar o comportamento anti-social. Gasta-se uma fortuna para controlar de forma inadequada um comportamento selvagem. A quebra do Contrato Social tem um custo em reais que é assustador. O tempo e o dinheiro requerido para defender-se da desonestidade do próximo é enorme e os resultados nada comparáveis com as vantagens da honestidade cotidiana, da moral careta que faz sociedades avançadas conseguirem muito mais com menos recursos.
O novo papel das escolas de recuperar os velhos valores, Sobretudo nas áreas onde há mais pobreza e problemas sociais, a crise de valores e a falta de coesão social são problemas sérios. Diante de uma falta de tradição da sociedade e da desestruturação familiar, a escola recebe um encargo ainda mais importante de desenvolver cidadania e responsabilidade social.
Pedimos à escola que, antes de tudo, cultive no aluno a moral convencional ("ou careta"). São os princípios fundamentais requeridos para o funcionamento correto e harmônico de uma sociedade: justiça, tolerância, responsabilidade social, veracidade, honestidade pessoal, assiduidade, pontualidade, cumprimento do dever, compaixão e assim por diante. Os grandiloquentes objetivos de consciência social e preocupação com os problemas da humanidade não substituem esta moral careta do cotidiano que permite o funcionamento da sociedade no seu dia a dia.
Em outros momentos, a escola pública cumpriu este papel. Mas sua degradação nos últimos decênios comprometeu este desempenho. Todavia, nos anos recentes houve um sólido princípio de soerguimento da escola, permitindo voltar-se a pensar nos seus papeis no domínio não cognitivo.
O ensino pelo exemplo e não pelo sermão
Uma das medidas usualmente pensadas é o reforço das disciplinas de "moral e cívica", isto é, a introdução destes valores explicitamente nos currículos. Obviamente, são esforçøs benvindos e nada pode haver contra eles.
Mas hoje sabemos que as crianças aprendem pelo exemplo e não pelo sermão, pelas lições de moral e preleções. É vivendo em uma escola (sociedade) onde se pratica no cotidiano os valores de responsabilidade social e cidadania que se aprendem estes mesmos valores.
Começamos a vislumbrar o caminho da solução quando vemos que a escola que transmite os valores que queremos é uma escola íntegra, digna e com auto-respeito, segura do seu funcionamento e missão. É esta mesma escola que ensina a lição e que transmite valores. É o que sempre identificamos como uma boa escola. Em outras palavras, a busca da escola que transmite valores é a mesma busca da escola que mostra competência em suas funções de transmitir um currículo, ensinar a ler, escrever, contar e pensar.
A escola que ensina valores é a escola digna e íntegra
Se é a escola séria com auto-estima aquela que transmite os valores da nossa cultura e da convivência harnmônica e produtiva, é fácil concluir que a tarefa de desenvolver a escola que gera civismo é exatamente a mesma tarefa de melhorar a escola em sua integridade.
Devemos entender que ao melhorar a escola em sua integridade, no seu ensino, na sua missão de oferecer uma educação de qualidade, estamos fazendo exatamente o que é necessário para gerar uma escola que transmite os valores esperados. Porque a escola é íntegra e oferece um bom ensino, ela é capaz de transmitir os valores que desejamos.
Devemos nos preocupar explicitamente com o o necessário soerguimento dos valores da sociedade brasileira. Mas isso não se faz sem melhorar a escola no seu todo. Não há soluções para melhorar o desempenho da escola nesta direção que não seja uma solução global de melhorar a escola em tudo que ela faz de central (o que não quer dizer que a escola deva fazer de tudo um pouco, é preciso foco).
Valores para pobres e valores para ricos?
Não podemos imaginar que haverá um civismo para os pobres e um civismo para os ricos. Isso seria tolice. Não obstante, como ricos e pobres não frequentam os mesmos meios e nem as mesmas escolas, os problemas que encontram uns e outros não são os mesmos.
Sobretudo nas grandes cidades e nas áreas mais depauperadas ou problemáticas, os pobres encontram uma escola péssima e desmoralizada. É uma escola que não pode transmitir os valores que não cultiva ela mesma. É uma escola que não é capaz de contrarrestar a desestruturação do comportamento social da sua vizinhança. Uma escola que mostra aos alunos que eles não conseguem aprender, que cultiva a repetência, que deixa cicatrizes na auto-estima dos alunos não pode ir muito longe na transmissão de valores. É uma escola que precisa virar uma escola boa, para que possa ser uma âncora, um emblema dos valores cívicos que uma sociedade tanto os necessita. É o problema clássico encontrado por todas as partes. Felizmente, estamos andando para frente neste particular.
Não é esta a escola dos ricos que frequentam estabelecimentos particulares - ou algum público que sobreviveu às crises. Mas esta escola de ricos tampouco está cumprindo os seus papeis. Esta pode ser uma escola que transmite os currículos escolares corretamente. Seguramente será uma escola que transmite certos valores e que ensina ao aluno a cultivar certos hábitos socialmente desejáveis. Até aí tudo bem.
Todavia, ela frequentemente transmite também alguns valores da sociedade brasileira que não são compatíveis com o Brasil que desejamos. Historicamente, vivemos uma transição, passando de uma sociedade semi-feudal, aristocrática, elitista (no sentido hereditário e não meritocrático da palavra). Nossas elites aprenderam a defender seus privilégios, aprenderam a pensar apenas nos seus interesses, alienando-se das preocupações com a sociedade como um todo. Aprenderam a pensar mais em interesses de grupos do que interesses coletivos (a visão corporatista).
Portanto, em certa medida, as escolas de rico transmitem os valores de uma sociedade tradicional e de privilégios que queremos eliminar. É extraordinário ver a falta de consciência social das novas gerações que inevitavelmente assumirão as rédeas da sociedade e da economia. Esta é uma agenda aberta.
Organização do seminário
A progressiva degradação das escolas brasileiras
Imagens mostrando a má qualidade das escolas, seja do ponto de vista físico seja da sua organização e competéncia para transmitir conhecimentos e valores. Sugerir a impossibilidade de transmitir valores em uma escola dilapidada e de moral baixa.
O soerguimento das escolas.
Conjunto de tentativas de recuperar as escolas, mostrando esforços dos professores, diretores e pais. Apresentar casos interessantes. A mensagem subjacente é que escola que re-adquire a sua dignidade é escola que passa a ser capaz de influenciar os alunos e transmitir os valores desejados. A busca é a mesma, o desenvolvimento dos valores é um sub-produto de fazer uma escola boa.
O discurso e o exemplo
Mostrar através de exemplos e entrevistas como os valores são adquiridos pela prática. Incluir não apenas a escola mas também a família.
Focalizar a vida da escola mas incluir também o mau e o bom exemplo dos pais.
?Verdade (cola, falsas promessas da escola)
? Igualdade (não discriminar contra pobre)
? Justiça (exemplos de injustiça comuns dentro da escola, correção de provas, perseguição)
? Tolerância (aceitar pessoas diferentes, conviver com valores e culturas diferentes, integraçao deficientes)
? Não Violência (solução pacífica de conflitos, drogas)
? Disciplina pessoal (prestar atenção à aula, fazer dever, adiar a gratificação das necessidades)
? Hierarquia (visão da hierarquia como uma forma necessária de organização para fazer funcionar uma organização, em contraste com opressão ou uso abusivo da autoridade, como obedecer a autoridade sem conflitos e como a autoridade se submete a regras de como chegar lá e como se comportar)
? Pontualidade (alunos ou professores atrazados)
Fonte: www2.redepitagoras.com.br
De tudo um pouco: resenhas; atividades escolares para o Ensino Fundamental I e II, Educação Infantil, Alfabetização; Jogos; Dicas; Atividades, Planos e projetos de aula, Textos teóricos; Artesanato; Redação; Enem; Vestibular; Revistas; Artigos; Moldes; Reciclagem...
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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
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professores apaixonados
Professores e professoras apaixonadas acordam cedo e dormem tarde, movidos pela idéia fixa de que podem mover o mundo.
Apaixonados, esquecem a hora do almoço e do jantar: estão preocupados com as múltiplas fomes que, de múltiplas formas, debilitam as inteligências.
As professoras apaixonadas descobriram que há homens no magistério igualmente apaixonados pela arte de ensinar, que é a arte de dar contexto a todos os textos.
Não há pretextos que justifiquem, para os professores apaixonados, um grau a menos de paixão, e não vai nisso nem um pouco de romantismo barato.
Apaixonar-se sai caro! Os professores apaixonados, com ou sem carro, buzinam o silêncio comodista, dão carona para os alunos que moram mais longe do conhecimento, saem cantando o pneu da alegria.
Se estão apaixonados, e estão, fazem da sala de aula um espaço de cânticos, de ênfases, de sínteses que demonstram, pela via do contraste, o absurdo que é viver sem paixão, ensinar sem paixão.
Dá pena, dá compaixão ver o professor desapaixonado, sonhando acordado com a aposentadoria, contando nos dedos os dias que faltam para as suas férias, catando no calendário os próximos feriados.
Os professores apaixonados muito bem sabem das dificuldades, do desrespeito, das injustiças, até mesmo dos horrores que há na profissão. Mas o professor apaixonado não deixa de professar, e seu protesto é continuar amando apaixonadamente.
Continuar amando é não perder a fé, palavra pequena que não se dilui no café ralo, não foge pelo ralo, não se apaga como um traço de giz no quadro.
Ter fé impede que o medo esmague o amor, que as alienações antigas e novas substituam a lúcida esperança.
Dar aula não é contar piada, mas quem dá aula sem humor não está com nada, ensinar é uma forma de oração.
Não essa oração chacoalhar de palavras sem sentido, com voz melosa ou ríspida. Mera oração subordinada, e mais nada.
Os professores apaixonados querem tudo. Querem multiplicar o tempo, somar esforços, dividir os problemas para solucioná-los. Querem analisar a química da realidade. Querem traçar o mapa de inusitados tesouros.
Os olhos dos professores apaixonados brilham quando, no meio de uma explicação, percebem o sorriso do aluno que entendeu algo que ele mesmo, professor, não esperava explicar.
A paixão é inexplicável, bem sei. Mas é também indisfarçável.
* Gabriel Perissé é Mestre em Literatura Brasileira pela FFLCH-USP e doutor em Filosofia da Educação e doutorando em Pedagogia pela USP; é autor dos livros "Ler, pensar e escrever" (Ed. Arte e Ciência); "O leitor criativo" (Omega Editora); "Palavra e origens" (Editora Mandruvá); "O professor do futuro (Thex Editora). É Fundador da ONG Projeto Literário Mosaico ; É editor da Revista Internacional Videtur -Letras (www.hottopos.com/vdletras3/index.htm); é professor universitário, coordenador-geral da ong literária Projeto Literário Mosaico: www.escoladeescritores.org.br)
Apaixonados, esquecem a hora do almoço e do jantar: estão preocupados com as múltiplas fomes que, de múltiplas formas, debilitam as inteligências.
As professoras apaixonadas descobriram que há homens no magistério igualmente apaixonados pela arte de ensinar, que é a arte de dar contexto a todos os textos.
Não há pretextos que justifiquem, para os professores apaixonados, um grau a menos de paixão, e não vai nisso nem um pouco de romantismo barato.
Apaixonar-se sai caro! Os professores apaixonados, com ou sem carro, buzinam o silêncio comodista, dão carona para os alunos que moram mais longe do conhecimento, saem cantando o pneu da alegria.
Se estão apaixonados, e estão, fazem da sala de aula um espaço de cânticos, de ênfases, de sínteses que demonstram, pela via do contraste, o absurdo que é viver sem paixão, ensinar sem paixão.
Dá pena, dá compaixão ver o professor desapaixonado, sonhando acordado com a aposentadoria, contando nos dedos os dias que faltam para as suas férias, catando no calendário os próximos feriados.
Os professores apaixonados muito bem sabem das dificuldades, do desrespeito, das injustiças, até mesmo dos horrores que há na profissão. Mas o professor apaixonado não deixa de professar, e seu protesto é continuar amando apaixonadamente.
Continuar amando é não perder a fé, palavra pequena que não se dilui no café ralo, não foge pelo ralo, não se apaga como um traço de giz no quadro.
Ter fé impede que o medo esmague o amor, que as alienações antigas e novas substituam a lúcida esperança.
Dar aula não é contar piada, mas quem dá aula sem humor não está com nada, ensinar é uma forma de oração.
Não essa oração chacoalhar de palavras sem sentido, com voz melosa ou ríspida. Mera oração subordinada, e mais nada.
Os professores apaixonados querem tudo. Querem multiplicar o tempo, somar esforços, dividir os problemas para solucioná-los. Querem analisar a química da realidade. Querem traçar o mapa de inusitados tesouros.
Os olhos dos professores apaixonados brilham quando, no meio de uma explicação, percebem o sorriso do aluno que entendeu algo que ele mesmo, professor, não esperava explicar.
A paixão é inexplicável, bem sei. Mas é também indisfarçável.
* Gabriel Perissé é Mestre em Literatura Brasileira pela FFLCH-USP e doutor em Filosofia da Educação e doutorando em Pedagogia pela USP; é autor dos livros "Ler, pensar e escrever" (Ed. Arte e Ciência); "O leitor criativo" (Omega Editora); "Palavra e origens" (Editora Mandruvá); "O professor do futuro (Thex Editora). É Fundador da ONG Projeto Literário Mosaico ; É editor da Revista Internacional Videtur -Letras (www.hottopos.com/vdletras3/index.htm); é professor universitário, coordenador-geral da ong literária Projeto Literário Mosaico: www.escoladeescritores.org.br)
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