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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Leve a crônica para as aulas de Língua Portuguesa


A crônica é um dos primeiros gêneros textuais com que os alunos entram em contato no Ensino Fundamental. A leitura e a produção de textos no gênero são conteúdos importantes para ensinar aos alunos do 6º ao 9º ano

Gabriela Portilho (novaescola@atleitor.com.br)

Ilustração: Santiago
A origem da palavra crônica remonta ao vocábulo grego chronikós, que significa "tempo", pelo latimchronica, ou seja, ao ler uma crônica estamos diante de um gênero textual onde a questão temporal é fundamental.
As crônicas tratam da realidade, do cotidiano, com linguagem despretensiosa e temas mais simples, geralmente relacionados ao passado e à infância. "A crônica tem essa característica peculiar de tratar sobre aquilo que está desaparecendo do mundo", explica o escritor e professor de literatura da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), no Paraná, Miguel Sanches Neto. É por isso que podemos dizer que se trata de um gênero miniloquente, ou seja, que fala de uma maneira suave, não impositiva e mais prosaica - em contraposição à eloquência dos grandes clássicos literários.

Por se tratar de um gênero mais cotidiano, confessional, breve e, sobretudo, muito vinculado ao "eu" do leitor, as crônicas são tidas como formas mais fluidas e efêmeras que a dos romances, contos e poesias.
Para Rita Jover Faleiros, selecionadora da área de Língua Portuguesa do Prêmio Victor Civita Educador Nota 10, a crônica pode ser considerada uma anedota, no sentido de despertar no autor - e nos leitores - uma reflexão ou transformação, utilizando-se ou não do humor. "As crônicas nos fazem pensar sobre a vida e sobre o mundo a partir de um pequeno evento cotidiano", explica.
Embora as crônicas que circulem no jornal reportem, na maioria das vezes, um recorte político, ou uma análise da transformação social, é importante colocar os alunos em contato com outros tipos de temas, mais literários - as crônicas de autores como Rubem Braga, Fernando Sabino e Carlos Drummond de Andrade


4 motivos para levar a crônica para a sala de aula

1. A crônica narra eventos e, por isso, produzir este tipo de texto mobiliza algumas estruturas linguísticas próprias, como os verbos no pretérito perfeito e imperfeito e as formas narrativas em primeira pessoa.

2. Por apresentar uma narrativa curta, focada em temas cotidianos, as crônicas trazem um texto muito acessível do ponto de vista de leitura e da produção escrita. "Somos familiarizados com essa narrativa desde a primeira infância e o processo de aquisição de linguagem", conta Rita. É por isso que as crônicas são um excelente ponto de partida para os exercício de leitura e escrita em sala de aula, especialmente a partir do Fundamental 2.

3. Por meio da leitura desse gênero literário podemos iniciar os alunos na articulação dos tempos verbais do pretérito, verbos de estados e de transformação. Segundo Rita, é importante chamar a atenção dos alunos para o fato de que essa arquitetura textual tem uma forma mais ou menos estável e pode ser notada em quase todas as crônicas - o que faz disso um gênero.

4. Do ponto de vista da formação de leitores, é fundamental chamar a atenção dos alunos para o fato das crônicas depositarem um olhar sobre o cotidiano.
Um bom modo de introduzi-las em sala de aula é trabalhar a leitura da coleção Para gostar de ler, com suas coletâneas de crônicas de grandes escritores como Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino e Luiz Fernando Veríssimo. Outros autores de referência são João do Rio, Stanislaw Ponte Preta e Mário Prata, como sugere Rodrigo Ugá, mestre em Literatura e Crítica Literária e professor da rede estadual de ensino de São Paulo.



Como iniciar o trabalho com os alunos
No Ensino Fundamental 2, além do exercício de leitura, é ideal que os professores mobilizem a turma a escrever suas anedotas, atentando para o uso de marcadores temporais. A ideia é que, durante a escrita, os alunos ampliem sua rede lexical de marcadores se apropriando de termos e expressões como: "quando eu fui", "uma semana depois", "três meses antes", entre outras.
Mas, antes de pedir a produção de um texto, o professor deve apresentar o gênero, pontuando sua origem, sua importância histórica e sua relevância ao longo de toda nossa história literária.
Em seguida, ele deve apresentar algumas crônicas para a turma (leia algumas aqui) e pedir que os alunos tentem identificar as características do gênero. Só então, o professor deve solicitar à turma a produção do texto.
É importante salientar que além de ser um gênero mais conciso, a crônica não se restringe ao mero relato. É um gênero que permite ao escritor desenvolver seu próprio estilo, e até mesmo carregar um pouco mais no lirismo.

Desenvolvendo o pacto com os leitores
A professora Rita Jover inovou a produção de crônicas com seus alunos das turmas de Fundamental 2, na EJA no colégio Santa Cruz, em São Paulo; Ela sugeriu que, primeiramente, os alunos fizessem a leitura do livro O imaginário cotidiano, de Moacyr Scliar.
Depois, Rita e a turma selecionaram em sites como o Planeta Bizarro, notícias inusitadas da internet. A professora solicitou que, a partir daquelas manchetes improváveis, os alunos constituíssem uma história crível para os futuros leitores.
O importante era que, por mais absurda que parecesse a notícia, os alunos relatassem o evento cotidiano como se fosse verdade, utilizando os recursos da narração em primeira pessoa, verbos no passado e um grande detalhamento de ações - características elementares da crônica. O fundamental era criar um pacto de ficção com o seu leitor.
Por fim, o trabalho elaborado com os alunos acabou virando um livro, que foi apresentado em um sarau onde a turma pode ler os textos produzidos.

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professores apaixonados

Professores e professoras apaixonadas acordam cedo e dormem tarde, movidos pela idéia fixa de que podem mover o mundo.
Apaixonados, esquecem a hora do almoço e do jantar: estão preocupados com as múltiplas fomes que, de múltiplas formas, debilitam as inteligências.
As professoras apaixonadas descobriram que há homens no magistério igualmente apaixonados pela arte de ensinar, que é a arte de dar contexto a todos os textos.
Não há pretextos que justifiquem, para os professores apaixonados, um grau a menos de paixão, e não vai nisso nem um pouco de romantismo barato.
Apaixonar-se sai caro! Os professores apaixonados, com ou sem carro, buzinam o silêncio comodista, dão carona para os alunos que moram mais longe do conhecimento, saem cantando o pneu da alegria.
Se estão apaixonados, e estão, fazem da sala de aula um espaço de cânticos, de ênfases, de sínteses que demonstram, pela via do contraste, o absurdo que é viver sem paixão, ensinar sem paixão.
Dá pena, dá compaixão ver o professor desapaixonado, sonhando acordado com a aposentadoria, contando nos dedos os dias que faltam para as suas férias, catando no calendário os próximos feriados.
Os professores apaixonados muito bem sabem das dificuldades, do desrespeito, das injustiças, até mesmo dos horrores que há na profissão. Mas o professor apaixonado não deixa de professar, e seu protesto é continuar amando apaixonadamente.
Continuar amando é não perder a fé, palavra pequena que não se dilui no café ralo, não foge pelo ralo, não se apaga como um traço de giz no quadro.
Ter fé impede que o medo esmague o amor, que as alienações antigas e novas substituam a lúcida esperança.
Dar aula não é contar piada, mas quem dá aula sem humor não está com nada, ensinar é uma forma de oração.
Não essa oração chacoalhar de palavras sem sentido, com voz melosa ou ríspida. Mera oração subordinada, e mais nada.
Os professores apaixonados querem tudo. Querem multiplicar o tempo, somar esforços, dividir os problemas para solucioná-los. Querem analisar a química da realidade. Querem traçar o mapa de inusitados tesouros.
Os olhos dos professores apaixonados brilham quando, no meio de uma explicação, percebem o sorriso do aluno que entendeu algo que ele mesmo, professor, não esperava explicar.
A paixão é inexplicável, bem sei. Mas é também indisfarçável.
* Gabriel Perissé é Mestre em Literatura Brasileira pela FFLCH-USP e doutor em Filosofia da Educação e doutorando em Pedagogia pela USP; é autor dos livros "Ler, pensar e escrever" (Ed. Arte e Ciência); "O leitor criativo" (Omega Editora); "Palavra e origens" (Editora Mandruvá); "O professor do futuro (Thex Editora). É Fundador da ONG Projeto Literário Mosaico ; É editor da Revista Internacional Videtur -Letras (www.hottopos.com/vdletras3/index.htm); é professor universitário, coordenador-geral da ong literária Projeto Literário Mosaico: www.escoladeescritores.org.br)