Todo ser humano é sujeito de aprendizagem. Em todos os lugares e em todas as etapas da vida, é possível aprender alguma coisa. A sala de aula não é o único espaço em que a aprendizagem acontece. Entretanto, é um ambiente privilegiado. O aluno vai à escola em busca de algo que, muitas vezes, não sabe o que é, de alguma coisa que preencha o que lhe falta. O fato é que sempre haverá algo faltando e é por isso que a aprendizagem não se esgota nunca.
Os alunos vêm de caminhos diferentes. Muitas vezes, desviam do rumo e é preciso cuidado para reconduzi-los. Imagine o artista que fará de tudo para restaurar uma obra-prima. Precisará de habilidade. Se não for assim, correrá o risco de destruir o que dela restou. É dessa destreza que necessita o professor na relação com seus alunos, principalmente com aqueles que tiveram o insucesso de provir de uma família sem amor.
O educador precisa enxergar o aluno e tentar conhecê-lo. Perguntar-se: quem são meus alunos? O que querem? Sonham? Se sonham, com o que sonham? Se não sonham, como fazê-los sonhar?
É difícil imaginar que um professor conheça, com profundidade, cada um de seus alunos. O tempo é tão pouco para tanta gente! Mas há fatores que ajudam: dinâmicas de apresentação, memorização dos nomes, atenção às conversas.
Além disso, o professor tem de evitar qualquer tipo de preconceito. Certo ano, no início das aulas de uma de minhas turmas de Direito, um aluno ficou o tempo todo deitado em duas ou três carteiras, com os olhos fechados e com um boné cobrindo-lhe o rosto. Os outros estavam atentos e cheios de perguntas. A aula correu muito bem, mas eu fiquei profundamente incomodado com a postura daquele aluno.
Na semana seguinte, a cena repetiu-se e, assim que acabou a aula, eu me dirigi, educadamente, ao aluno. Disse-lhe, longe dos outros:
– Tiago, não me incomoda o fato de você ficar deitado na sala. Talvez, você até aprenda melhor assim, não sei. Minha preocupação é com seu futuro. Uma postura dessas pode fazer com que algumas portas se fechem em sua vida profissional.
Na semana seguinte, ele não foi de boné nem ficou deitado. Aos poucos, passou a participar ativamente da aula e, ao final do ano, fez-me uma confidência, que pode ser considerada um presente, por qualquer professor:
– O senhor mudou minha vida.
O que esse menino queria, no início, era testar minha paciência. Ele tinha a certeza de que eu o expulsaria da sala de aula. Nunca fiz isso, em todos estes anos de magistério. O máximo foi sugerir que algum aluno desse uma volta, falasse fora da sala o que estivesse ávido por dizer, tomasse um copo de água e voltasse calmamente. Aqui vai outra questão fundamental: coerência. Um educador não pode ser mal-educado.
É necessário saber utilizar o poder da palavra para realizar o milagre da transformação. O aluno deve ser motivado a aprender. É assim desde Sócrates, que comparava a educação à arte da parturição. A criança necessita de um impulso para nascer. O professor não deve desprezar as ideias que seus alunos levam consigo para a sala de aula. Elas estão ali, esperando alguém que seja capaz de lapidá-las. E, com gentileza, tudo fica mais fácil, porque o ser humano torna-se dócil frente a ela. Suas resistências caem e seus medos desaparecem, pois do outro lado há uma pessoa que só quer o bem.
Já se provou que os métodos arbitrários, violentos, não educam. Quando muito, adestram. E adestrar o ser humano, condicioná-lo a obedecer por medo, é reduzir sua estatura intelectual e emocional.
A tranquila confirmação poética é de Cora Coralina: “Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”.
A arte de ensinar e de aprender de Gabriel Chalita
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