No debate educacional brasileiro, é comum nos depararmos com a falsa dicotomia entre avaliação externa e as provas feitas pelo próprio professor. De um lado, a avaliação dos professores é apresentada de forma positiva: o professor é o único capaz de avaliar o processo de aprendizagem e, portanto, suas conclusões seriam sempre mais contextualizadas, abrangentes e justas. De outro, a avaliação externa enfrenta a resistência de alguns profissionais da educação: ela estaria apenas direcionada a um resultado quantitativo, levando a uma análise reducionista e simplista do aluno. Mas será que isso corresponde à realidade das nossas salas de aula?
Segundo a pesquisadora Bernardete Gatti, da Fundação Carlos Chagas, os professores não sabem avaliar seus alunos nem compreendem a complexidade ou os resultados da avaliação externa. Simplesmente porque eles nunca aprenderam a fazer isso. Segundo Bernardete, apenas 1% dos cursos de Pedagogia analisados por ela em uma pesquisa apresenta disciplinas com foco na avaliação. Não é de surpreender, então, que na hora de avaliar os alunos, muitos professores acabem produzindo “provas incoerentes, feitas ‘no joelho’, que não foram pensadas com nenhum referencial didático contemporâneo”, como afirma a pesquisadora.
À mesma conclusão chegou o pesquisador uruguaio Pedro Ravela. Em um estudo comparativo entre oito países latino-americanos, ele entrevistou 160 docentes de escolas com bom desempenho no exame Segundo Estudo Regional da Qualidade da Educação (SERCE), desenvolvido pela Unesco, e analisou 4.360 atividades e provas elaboradas por estes professores para serem aplicadas em suas aulas. Ravela constatou que “apesar da ênfase que o discurso pedagógico coloca no pensamento crítico e na reflexão, nas salas analisadas predominam as propostas de corte notadamente conteudista, sem contexto real plausível, de discutível relevância e cuja resolução requer processos extremamente simples” (leia também a entrevista com Pedro Ravela).
Uma das recomendações de Ravela para melhorar este quadro é de que os professores devem ser preparados para elaborar não só avaliações, mas atividades didáticas mais complexas e desafiadoras. Para isso, precisamos ter claro o que desejamos que os alunos sejam capazes de fazer ao final de um determinado período (mês, bimestre, semestre, ano ou ciclo escolar). Sem estes parâmetros, não podemos esperar que os professores elaborem atividades, tarefas e questões que demonstrem se seus alunos atingiram o patamar almejado ou em que ponto eles estão no caminho da construção do conhecimento. E é exatamente isso que a metodologia utilizada na maioria das avaliações externas faz.
A diminuição das resistências a estas avaliações, com a compreensão técnica de seu potencial e, consequentemente, a sua incorporação aos cursos de formação de professores seriam importantes passos na melhoria das nossas salas de aula.
Artigo publicado na edição de dezembro de 2011 da revista Profissão Mestre. Paula Louzano
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