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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O perfil do professor mediador

Marcos Meier e Gislaine Coimbra Budel
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Virou moda chamar todos os professores de “mediadores”, mas uma grande parte não é. Mediar não é o mesmo que interagir, não é o mesmo que ensinar. Mediação é muito mais do que isso. De acordo com Reuven Feuerstein, um dos maiores educadores do mundo, a mediação precisa ter algumas características muito especiais. Sem elas, não é mediação, é apenas uma “interação”. Vejamos as três principais:

1 – Intencionalidade e reciprocidade
O mediador precisa querer ensinar o conteúdo com tal paixão e decisão que fará tudo o que estiver ao seu alcance para explicar da melhor forma possível. Adaptará a linguagem para que a criança com deficiência realmente compreenda. Usará as tecnologias disponíveis na escola para que o conceito se torne claro. Isso tudo chamaremos de intencionalidade, que é a soma do objetivo com as todas as ações possíveis para que o ensino seja realmente de qualidade. Além da intencionalidade do professor, o aluno precisa desejar aprender. Isso se chama reciprocidade. E o mediador usa estratégias adequadas para encantar o aluno desde o princípio, para chamar sua atenção, para conquistar sua vontade de aprender.
2 – Transcendência
Não basta aprender para fazer uma prova. É preciso que se aprenda de tal forma que seja possível aplicar o conceito construído em qualquer outra situação ou contexto. A compreensão do conceito é tal que a criança passa a aplicar o aprendido em sua própria vida e consegue explicar qualquer nova situação em que o conceito esteja presente.
3 – Mediação do significado
Um conceito realmente compreendido se interliga a outros conceitos já construídos pela criança. O mediador precisa ajudar a criança a fazer isso, principalmente uma criança com dificuldades de aprendizagem. Mediar o significado é mostrar aos alunos onde se aplica o conteúdo recém-aprendido, de que forma esse conteúdo aumenta a compreensão sobre outros fatos e como o conceito pode ampliar a compreensão de mundo da criança. Tudo isso é mediar o significado de um conceito.
Segundo Feuerstein, um mediador sempre considera em suas atitudes essas três características anteriores; no entanto, para que um mediador seja ainda melhor é necessário que inclua outras nove características em sua interação com seus alunos, incluindo as crianças com deficiências. Se as três características estiverem presentes num professor, ele já pode ser considerado um mediador; no entanto, se tal professor apresentar em suas atitudes as outras nove, ele será um mediador ainda melhor.
Os professores precisam receber formação continuada para que possam desenvolver melhor sua metodologia. Sabemos que muitos professores já agem de acordo com as características de mediação aqui defendidas, mas para que possam ser ainda mais eficazes é importante que suas ações sejam conscientes e planejadas, e não apenas fruto do acaso ou de experiências – ainda que bem-sucedidas. Precisamos nos profissionalizar cada vez mais. Precisamos agir com nossos alunos sabendo o que queremos e onde pretendemos levá-los com nossa ajuda, e em especial para com os alunos com deficiências. Sem esses pré-requisitos iremos interagir com eles, mas não saberemos se as vitórias ou fracassos dependeram mais de nós ou das próprias crianças.

Inspirado na obra Mediação da aprendizagem na educação especial, de Gislaine Coimbra Budel e Marcos Meier (Editora IBPEX, 2012).

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professores apaixonados

Professores e professoras apaixonadas acordam cedo e dormem tarde, movidos pela idéia fixa de que podem mover o mundo.
Apaixonados, esquecem a hora do almoço e do jantar: estão preocupados com as múltiplas fomes que, de múltiplas formas, debilitam as inteligências.
As professoras apaixonadas descobriram que há homens no magistério igualmente apaixonados pela arte de ensinar, que é a arte de dar contexto a todos os textos.
Não há pretextos que justifiquem, para os professores apaixonados, um grau a menos de paixão, e não vai nisso nem um pouco de romantismo barato.
Apaixonar-se sai caro! Os professores apaixonados, com ou sem carro, buzinam o silêncio comodista, dão carona para os alunos que moram mais longe do conhecimento, saem cantando o pneu da alegria.
Se estão apaixonados, e estão, fazem da sala de aula um espaço de cânticos, de ênfases, de sínteses que demonstram, pela via do contraste, o absurdo que é viver sem paixão, ensinar sem paixão.
Dá pena, dá compaixão ver o professor desapaixonado, sonhando acordado com a aposentadoria, contando nos dedos os dias que faltam para as suas férias, catando no calendário os próximos feriados.
Os professores apaixonados muito bem sabem das dificuldades, do desrespeito, das injustiças, até mesmo dos horrores que há na profissão. Mas o professor apaixonado não deixa de professar, e seu protesto é continuar amando apaixonadamente.
Continuar amando é não perder a fé, palavra pequena que não se dilui no café ralo, não foge pelo ralo, não se apaga como um traço de giz no quadro.
Ter fé impede que o medo esmague o amor, que as alienações antigas e novas substituam a lúcida esperança.
Dar aula não é contar piada, mas quem dá aula sem humor não está com nada, ensinar é uma forma de oração.
Não essa oração chacoalhar de palavras sem sentido, com voz melosa ou ríspida. Mera oração subordinada, e mais nada.
Os professores apaixonados querem tudo. Querem multiplicar o tempo, somar esforços, dividir os problemas para solucioná-los. Querem analisar a química da realidade. Querem traçar o mapa de inusitados tesouros.
Os olhos dos professores apaixonados brilham quando, no meio de uma explicação, percebem o sorriso do aluno que entendeu algo que ele mesmo, professor, não esperava explicar.
A paixão é inexplicável, bem sei. Mas é também indisfarçável.
* Gabriel Perissé é Mestre em Literatura Brasileira pela FFLCH-USP e doutor em Filosofia da Educação e doutorando em Pedagogia pela USP; é autor dos livros "Ler, pensar e escrever" (Ed. Arte e Ciência); "O leitor criativo" (Omega Editora); "Palavra e origens" (Editora Mandruvá); "O professor do futuro (Thex Editora). É Fundador da ONG Projeto Literário Mosaico ; É editor da Revista Internacional Videtur -Letras (www.hottopos.com/vdletras3/index.htm); é professor universitário, coordenador-geral da ong literária Projeto Literário Mosaico: www.escoladeescritores.org.br)