Sonia Casarin
Uma criança só, isolada, fechada em si mesma, com movimentos repetitivos, que evita olhar diretamente para as pessoas. Esta é a imagem associada à criança que tem autismo. Quando o professor recebe em sala de aula um aluno autista, questiona-se: sou capaz de atendê-lo? Até que ponto esse indivíduo tem condições de aprender?
Em primeiro lugar, o educador precisa se informar. Dentre as características importantes desse transtorno, que precisam ser de conhecimento do docente, estão: dificuldade na interação social e comprometimento na linguagem e no comportamento, apresentando movimentos estereotipados, como balançar o tronco ou rodar objetos. Além da dificuldade de se comunicar verbalmente, a criança percebe pessoas e objetos do ambiente de maneira fragmentada e tem dificuldade de simbolizar. A capacidade cognitiva varia e algumas crianças com autismo podem ter deficiência intelectual. Geralmente diagnosticada na infância, a pessoa com autismo pode apresentar habilidades surpreendentes, por exemplo, excelente memória, podendo memorizar longas listas de datas e números, mas essas habilidades costumam ter pouca funcionalidade.
A dificuldade de relacionamento interpessoal do aluno autista coloca um desafio ao professor e a afetividade é uma forma de enfrentá-lo. O isolamento da criança autista não deve ser entendido como uma ausência de afeto, ao contrário, criar um ambiente afetivo e acolhedor é essencial para estabelecer um vínculo seguro e construir um relacionamento que vai favorecer o processo de aprendizagem.
A atitude receptiva, acolhedora e compreensiva do professor se expressa também pela comunicação. A linguagem deve ser simples, clara e direta; o professor deve se dirigir individualmente ao aluno que tem autismo, dizer seu nome e se manter fisicamente próximo. Entretanto, o contato físico não é recomendável, pois, na maioria das vezes, a criança não aceita esse contato e pode ter reações intensas, como agitação motora e agressividade. Essas reações podem surgir também em situações de frustração, medo e raiva. Inicialmente, a criança não tem condições de enfrentar a situação e o docente deve afastá-la da situação problema.
O aluno com autismo pode chegar à idade escolar sem ter adquirido a postura de estudante, esta deverá ser construída no ambiente da sala de aula e da sala de recursos multifuncionais. As expectativas de comportamento devem ser explicitadas e mostradas com clareza, ou seja, onde ele deve ficar, quais materiais deve usar, quais atividades deve realizar. E a organização do ambiente da sala de aula e a estruturação das rotinas escolares facilitam a adaptação da criança e garantem a previsibilidade que proporciona segurança.
Portanto, o professor deve conhecer os hábitos, objetos e atividades que atraem a criança para utilizá-los nas atividades pedagógicas e evitar situações que causam ansiedade. Embora repetitiva, a manipulação que a criança faz dos objetos pode ser a base de atividades como brincadeiras de encaixe e montagem, de complexidade crescente, por meio das quais a criança pode aprender a realizar operações lógicas.
Um dos papéis da escola é promover a autonomia do aluno, tanto no aspecto pragmático como no intelectual. Na criança com autismo, a autonomia se refere principalmente aos aspectos práticos de autocuidados e rotinas, ou seja, cuidar da higiene, saber se alimentar, saber utilizar os objetos necessários para realizar tarefas cotidianas e, no aspecto pedagógico, conseguir realizar atividades por iniciativa própria e se apropriar de conteúdos intelectuais, de acordo com suas condições cognitivas.
Vale lembrar ainda que a parceria com a família é muito importante para que haja consistência nas mensagens que a criança recebe na escola e em casa. Essa consistência proporciona segurança, facilita a aprendizagem e favorece o desenvolvimento da criança com autismo.
Artigo publicado originalmente na edição de agosto de 2010 da revista Profissão Mestre.
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