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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Autismo na sala de aula


Sonia Casarin
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Uma criança só, isolada, fechada em si mesma, com movimentos repetitivos, que evita olhar diretamente para as pessoas. Esta é a imagem associada à criança que tem autismo. Quando o professor recebe em sala de aula um aluno autista, questiona-se: sou capaz de atendê-lo? Até que ponto esse indivíduo tem condições de aprender? 
Em primeiro lugar, o educador precisa se informar. Dentre as características importantes desse transtorno, que precisam ser de conhecimento do docente, estão: dificuldade na interação social e comprometimento na linguagem e no comportamento, apresentando movimentos estereotipados, como balançar o tronco ou rodar objetos. Além da dificuldade de se comunicar verbalmente, a criança percebe pessoas e objetos do ambiente de maneira fragmentada e tem dificuldade de simbolizar. A capacidade cognitiva varia e algumas crianças com autismo podem ter deficiência intelectual. Geralmente diagnosticada na infância, a pessoa com autismo pode apresentar habilidades surpreendentes, por exemplo, excelente memória, podendo memorizar longas listas de datas e números, mas essas habilidades costumam ter pouca funcionalidade.
A dificuldade de relacionamento interpessoal do aluno autista coloca um desafio ao professor e a afetividade é uma forma de enfrentá-lo. O isolamento da criança autista não deve ser entendido como uma ausência de afeto, ao contrário, criar um ambiente afetivo e acolhedor é essencial para estabelecer um vínculo seguro e construir um relacionamento que vai favorecer o processo de aprendizagem.
A atitude receptiva, acolhedora e compreensiva do professor se expressa também pela comunicação. A linguagem deve ser simples, clara e direta; o professor deve se dirigir individualmente ao aluno que tem autismo, dizer seu nome e se manter fisicamente próximo. Entretanto, o contato físico não é recomendável, pois, na maioria das vezes, a criança não aceita esse contato e pode ter reações intensas, como agitação motora e agressividade. Essas reações podem surgir também em situações de frustração, medo e raiva. Inicialmente, a criança não tem condições de enfrentar a situação e o docente deve afastá-la da situação problema.
O aluno com autismo pode chegar à idade escolar sem ter adquirido a postura de estudante, esta deverá ser construída no ambiente da sala de aula e da sala de recursos multifuncionais. As expectativas de comportamento devem ser explicitadas e mostradas com clareza, ou seja, onde ele deve ficar, quais materiais deve usar, quais atividades deve realizar. E a organização do ambiente da sala de aula e a estruturação das rotinas escolares facilitam a adaptação da criança e garantem a previsibilidade que proporciona segurança.
Portanto, o professor deve conhecer os hábitos, objetos e atividades que atraem a criança para utilizá-los nas atividades pedagógicas e evitar situações que causam ansiedade. Embora repetitiva, a manipulação que a criança faz dos objetos pode ser a base de atividades como brincadeiras de encaixe e montagem, de complexidade crescente, por meio das quais a criança pode aprender a realizar operações lógicas.
Um dos papéis da escola é promover a autonomia do aluno, tanto no aspecto pragmático como no intelectual. Na criança com autismo, a autonomia se refere principalmente aos aspectos práticos de autocuidados e rotinas, ou seja, cuidar da higiene, saber se alimentar, saber utilizar os objetos necessários para realizar tarefas cotidianas e, no aspecto pedagógico, conseguir realizar atividades por iniciativa própria e se apropriar de conteúdos intelectuais, de acordo com suas condições cognitivas.
Vale lembrar ainda que a parceria com a família é muito importante para que haja consistência nas mensagens que a criança recebe na escola e em casa. Essa consistência proporciona segurança, facilita a aprendizagem e favorece o desenvolvimento da criança com autismo.
Artigo publicado originalmente na edição de agosto de 2010 da revista Profissão Mestre. 

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professores apaixonados

Professores e professoras apaixonadas acordam cedo e dormem tarde, movidos pela idéia fixa de que podem mover o mundo.
Apaixonados, esquecem a hora do almoço e do jantar: estão preocupados com as múltiplas fomes que, de múltiplas formas, debilitam as inteligências.
As professoras apaixonadas descobriram que há homens no magistério igualmente apaixonados pela arte de ensinar, que é a arte de dar contexto a todos os textos.
Não há pretextos que justifiquem, para os professores apaixonados, um grau a menos de paixão, e não vai nisso nem um pouco de romantismo barato.
Apaixonar-se sai caro! Os professores apaixonados, com ou sem carro, buzinam o silêncio comodista, dão carona para os alunos que moram mais longe do conhecimento, saem cantando o pneu da alegria.
Se estão apaixonados, e estão, fazem da sala de aula um espaço de cânticos, de ênfases, de sínteses que demonstram, pela via do contraste, o absurdo que é viver sem paixão, ensinar sem paixão.
Dá pena, dá compaixão ver o professor desapaixonado, sonhando acordado com a aposentadoria, contando nos dedos os dias que faltam para as suas férias, catando no calendário os próximos feriados.
Os professores apaixonados muito bem sabem das dificuldades, do desrespeito, das injustiças, até mesmo dos horrores que há na profissão. Mas o professor apaixonado não deixa de professar, e seu protesto é continuar amando apaixonadamente.
Continuar amando é não perder a fé, palavra pequena que não se dilui no café ralo, não foge pelo ralo, não se apaga como um traço de giz no quadro.
Ter fé impede que o medo esmague o amor, que as alienações antigas e novas substituam a lúcida esperança.
Dar aula não é contar piada, mas quem dá aula sem humor não está com nada, ensinar é uma forma de oração.
Não essa oração chacoalhar de palavras sem sentido, com voz melosa ou ríspida. Mera oração subordinada, e mais nada.
Os professores apaixonados querem tudo. Querem multiplicar o tempo, somar esforços, dividir os problemas para solucioná-los. Querem analisar a química da realidade. Querem traçar o mapa de inusitados tesouros.
Os olhos dos professores apaixonados brilham quando, no meio de uma explicação, percebem o sorriso do aluno que entendeu algo que ele mesmo, professor, não esperava explicar.
A paixão é inexplicável, bem sei. Mas é também indisfarçável.
* Gabriel Perissé é Mestre em Literatura Brasileira pela FFLCH-USP e doutor em Filosofia da Educação e doutorando em Pedagogia pela USP; é autor dos livros "Ler, pensar e escrever" (Ed. Arte e Ciência); "O leitor criativo" (Omega Editora); "Palavra e origens" (Editora Mandruvá); "O professor do futuro (Thex Editora). É Fundador da ONG Projeto Literário Mosaico ; É editor da Revista Internacional Videtur -Letras (www.hottopos.com/vdletras3/index.htm); é professor universitário, coordenador-geral da ong literária Projeto Literário Mosaico: www.escoladeescritores.org.br)