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segunda-feira, 10 de agosto de 2009

A arte de redigir

Não é apenas em Matemática que se efetuam demonstrações: todos os dias, na vida, nós temos de demonstrar por obras, palavras ou escritos, alguma coisa: a nossa inocência, a nossa justiça, a nossa verdade, a nossa virtude, a capacidade do nosso trabalho etc. Todas essas demonstrações se fazem com palavras, mas não são palavras loucas ou desordenadas: com palavras bem raciocinadas e bem ordenadas a um fim determinado.
Serão vãs, inúteis e até contraproducentes todas as expressões que não sejam devidamente escolhidas e conduzidas.
Aqueles que escrevem consideram sempre, ao pegarem na pena, o mecanismo lógico e as regras a que deve obedecer uma demonstração? Sabem, porventura, formular uma hipótese? Sabem estabelecer, com rigor, uma indução ou dedução? Sabem estabelecer a analogia? Distinguem um axioma de um postulado? (...)
Quando não pensa bem, o homem erra; quando não pensa bem, o homem escreve mal. O erro mental transforma-se naturalmente num erro de escrita. Ainda que um homem saiba todas as regras de Gramática, não poderá redigir
corretamente, se ignorar as leis básicas da Lógica.
A construção da frase não é tudo; para além dela há a considerar a expressão e a alma das palavras, a perfeição dos raciocínios, o escrúpulo das demonstrações e o rigor das conclusões.
O homem não deve se escravizar nem ao culto da palavra, que degenera em vão psitacismo, nem ao culto exclusivo da idéia que arrasta o ser humano para o geometrismo do espírito e para o logicismo deformador que afastam da vida e
das realidades.
Para pensar e para escrever bem, torna-se ainda indispensável que o indivíduo saiba tirar de si próprio tudo quanto o seu espírito lhe pode proporcionar. A meditação é essencial ao escritor porque constitui um mergulho no seu próprio
inconsciente.
Gonçalves Viana

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professores apaixonados

Professores e professoras apaixonadas acordam cedo e dormem tarde, movidos pela idéia fixa de que podem mover o mundo.
Apaixonados, esquecem a hora do almoço e do jantar: estão preocupados com as múltiplas fomes que, de múltiplas formas, debilitam as inteligências.
As professoras apaixonadas descobriram que há homens no magistério igualmente apaixonados pela arte de ensinar, que é a arte de dar contexto a todos os textos.
Não há pretextos que justifiquem, para os professores apaixonados, um grau a menos de paixão, e não vai nisso nem um pouco de romantismo barato.
Apaixonar-se sai caro! Os professores apaixonados, com ou sem carro, buzinam o silêncio comodista, dão carona para os alunos que moram mais longe do conhecimento, saem cantando o pneu da alegria.
Se estão apaixonados, e estão, fazem da sala de aula um espaço de cânticos, de ênfases, de sínteses que demonstram, pela via do contraste, o absurdo que é viver sem paixão, ensinar sem paixão.
Dá pena, dá compaixão ver o professor desapaixonado, sonhando acordado com a aposentadoria, contando nos dedos os dias que faltam para as suas férias, catando no calendário os próximos feriados.
Os professores apaixonados muito bem sabem das dificuldades, do desrespeito, das injustiças, até mesmo dos horrores que há na profissão. Mas o professor apaixonado não deixa de professar, e seu protesto é continuar amando apaixonadamente.
Continuar amando é não perder a fé, palavra pequena que não se dilui no café ralo, não foge pelo ralo, não se apaga como um traço de giz no quadro.
Ter fé impede que o medo esmague o amor, que as alienações antigas e novas substituam a lúcida esperança.
Dar aula não é contar piada, mas quem dá aula sem humor não está com nada, ensinar é uma forma de oração.
Não essa oração chacoalhar de palavras sem sentido, com voz melosa ou ríspida. Mera oração subordinada, e mais nada.
Os professores apaixonados querem tudo. Querem multiplicar o tempo, somar esforços, dividir os problemas para solucioná-los. Querem analisar a química da realidade. Querem traçar o mapa de inusitados tesouros.
Os olhos dos professores apaixonados brilham quando, no meio de uma explicação, percebem o sorriso do aluno que entendeu algo que ele mesmo, professor, não esperava explicar.
A paixão é inexplicável, bem sei. Mas é também indisfarçável.
* Gabriel Perissé é Mestre em Literatura Brasileira pela FFLCH-USP e doutor em Filosofia da Educação e doutorando em Pedagogia pela USP; é autor dos livros "Ler, pensar e escrever" (Ed. Arte e Ciência); "O leitor criativo" (Omega Editora); "Palavra e origens" (Editora Mandruvá); "O professor do futuro (Thex Editora). É Fundador da ONG Projeto Literário Mosaico ; É editor da Revista Internacional Videtur -Letras (www.hottopos.com/vdletras3/index.htm); é professor universitário, coordenador-geral da ong literária Projeto Literário Mosaico: www.escoladeescritores.org.br)