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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Falta de disciplina ou de valores? A importância da Educação Preventiva

Disciplina, ou antes, a sensação de que há falta de disciplina entre as crianças e jovens de hoje, vem ganhando cada vez mais espaço na mídia, nas escolas, nas famílias. Muitas vezes, o problema aparece associado a casos extremos, como o consumo de drogas e o sexo irresponsável. O que está acontecendo? O problema reside, de fato, na "falta de disciplina"?
É hora de pensar sobre este assunto, que tende a se tornar cada vez mais importante. Afinal, disciplina é somente a face visível de uma questão mais abrangente e fundamental para o nosso futuro: a formação dos valores das nossas crianças e jovens. Pode parecer uma questão antiga, mas não é. Este trabalho de estabelecer valores de forma consciente e planejada - que podemos chamar de Educação Preventiva - é um desafio contemporâneo para pais e educadores, e é preciso assumi-lo. Noções como justiça, responsabilidade, autonomia, respeito a si e ao outro se mostram cada vez mais atuais, e influirão na capacidade de nossas crianças e jovens se realizarem em uma sociedade melhor.

O mundo muda
O mundo muda em ritmo vertiginoso, transformado pelas novas tecnologias, pela quantidade de informações produzidas e pela rapidez com que circulam. Crianças e adolescentes comportados, que obedeciam a regras somente por temor ou para agradar aos adultos, foram sucedidos por outros com acesso a mais informações, que questionam, pensam e encontram mais espaço para formular hipóteses sobre o mundo em que vivem. Devido a isso, o papel da escola mudou. Não basta apenas transmitir informações; é necessário formar um aluno que goste de aprender e saiba solucionar problemas.
O paradigma se alterou: o enfoque do ensino mudou do professor que ensina para o aluno que aprende.
A escola deve ensinar seus alunos a aprender continuamente, fornecendo-lhes os instrumentos para isso, as chaves do conhecimento. À escola cabe ensinar o aluno a pensar. Igualmente, precisamos atuar dentro de um quadro de valores que leve em consideração o fato de vivermos dentro de uma sociedade democrática, e que o bem-estar coletivo deve estar sempre presente nas decisões que tomamos.
Aqui surge o grande desafio. Como conciliar características de inquietação (cognitiva) com o respeito aos outros e às regras? Para responder a esta questão, precisamos entender melhor o conceito de autonomia.

Autonomia e heteronomia
No início da vida, a criança é o que podemos chamar de heterônoma, ou seja, precisa dos adultos para ajudá-la a agir de maneira adequada às diferentes situações que vive no dia-a-dia. Nesta fase, a criança aceita a imposição das regras e as considera universais e inquestionáveis.
À medida que cresce, aumentam suas possibilidades de estabelecer relações. Assim, percebe melhor a organização social e o ponto de vista do outro, passa a questionar regras que aceitava quase incondicionalmente e a perceber que algumas são combinadas por um grupo (e não são universais). As regras agora podem ser alteradas ou conservadas. Começa o caminho para a autonomia, que só será realmente alcançada ao final da adolescência. O papel do adulto neste desenvolvimento é importante. Ao mesmo tempo que orienta as ações da criança, deve explicar a ela o porquê destas regras, sua utilidade para o bom funcionamento de um grupo social e, principalmente, ensiná-la a relacionar os atos com as conseqüências que produzem. Isso fará com que a criança comece a pensar no outro e saia do egocentrismo natural. Ao participar da formulação das regras que serão então respeitadas pelo grupo, as crianças desenvolvem a cooperação e o respeito mútuo, pois aprendem que o que vale para elas, vale para o outro. Esses são fatores básicos quando falamos em disciplina.

A questão da autoridade
Há também muitos momentos em que usar da autoridade de pais é necessário. Para a criança pequena, por exemplo, é difícil relacionar os atos com conseqüências distantes. Não devemos dizer simplesmente "não faça isto porque estou mandando ou porque é feio". É importante que se explique à criança porque deve se comportar de determinada maneira, como não bater nos amigos pois não devemos fazer aos outros o que não gostaríamos que nos fizessem, ou não mentir porque isso põe em risco as relações de confiança. O que estamos fazendo é tornar a criança mais consciente de seus atos, trazendo as conseqüências para mais perto dela.
À medida que a criança cresce, passa a conhecer as razões das regras, sendo capaz de entendê-las e de, portanto, segui-las por conta própria, independentemente de estar sendo vigiada, coagida ou orientada a fazê-lo. Quanto mais a criança adquire reais habilidades físicas e cognitivas, maiores responsabilidades podem ser dadas a ela. Quanto mais experiências puder ter no sentido de agir e verificar os resultados de suas ações, maiores possibilidades terá de estabelecer relações entre atos e comportamentos e, assim, caminhar para a autonomia.
Esse processo começa na infância e deve continuar na adolescência. Estaremos, assim, dando um passo muito maior do que buscar pura e simplesmente a disciplina. Estaremos formando pessoas com conjuntos de valores sólidos. Isso é educar de forma preventiva, e sempre é possível começar.

FORMANDO VALORES
Todo adulto precisa estar atento aos valores que transmite, em atos e palavras.

É necessário:
- sermos coerentes, ou seja, agirmos de acordo com os valores que pregamos;
- sermos consistentes, mantendo sempre as mesmas atitudes com relação aos fatos;
- fazermos promessas viáveis e cumpri-las, e nunca ameaças impossíveis de serem cumpridas;
- utilizarmos as conseqüências naturais dos atos, em vez de punições arbitrárias ou recompensas;
- dizermos claramente o que esperamos da criança, em vez de apenas dizermos não.

VALORES TRABALHADOS NA ESCOLA
Os valores que sustentam nossas ações como educadores nos permitirão formar pessoas que:
- pensem sobre a conseqüência de seus atos para si e para a coletividade;
- conheçam suas capacidades e as dos outros, tendo um autoconceito positivo, e sejam tolerantes com a diversidade;
- assegurem seus direitos, sem perder de vista o coletivo;
- sejam críticas e questionem a legitimidade e a funcionalidade das regras, utilizando argumentos consistentes;
- sejam solidárias, através de ações ou palavras;
- sejam persistentes, enfrentando suas dificuldades;
- sejam cooperativas, percebendo as necessidades do outro e os objetivos do grupo;
- percebam que o estudo é fundamental para sua formação, e também um compromisso social.
Helena Samara – Psicóloga- Diretora Pedagógica da Educação Infantil do Colégio Móbile
Fonte: Rede Pitágoras

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professores apaixonados

Professores e professoras apaixonadas acordam cedo e dormem tarde, movidos pela idéia fixa de que podem mover o mundo.
Apaixonados, esquecem a hora do almoço e do jantar: estão preocupados com as múltiplas fomes que, de múltiplas formas, debilitam as inteligências.
As professoras apaixonadas descobriram que há homens no magistério igualmente apaixonados pela arte de ensinar, que é a arte de dar contexto a todos os textos.
Não há pretextos que justifiquem, para os professores apaixonados, um grau a menos de paixão, e não vai nisso nem um pouco de romantismo barato.
Apaixonar-se sai caro! Os professores apaixonados, com ou sem carro, buzinam o silêncio comodista, dão carona para os alunos que moram mais longe do conhecimento, saem cantando o pneu da alegria.
Se estão apaixonados, e estão, fazem da sala de aula um espaço de cânticos, de ênfases, de sínteses que demonstram, pela via do contraste, o absurdo que é viver sem paixão, ensinar sem paixão.
Dá pena, dá compaixão ver o professor desapaixonado, sonhando acordado com a aposentadoria, contando nos dedos os dias que faltam para as suas férias, catando no calendário os próximos feriados.
Os professores apaixonados muito bem sabem das dificuldades, do desrespeito, das injustiças, até mesmo dos horrores que há na profissão. Mas o professor apaixonado não deixa de professar, e seu protesto é continuar amando apaixonadamente.
Continuar amando é não perder a fé, palavra pequena que não se dilui no café ralo, não foge pelo ralo, não se apaga como um traço de giz no quadro.
Ter fé impede que o medo esmague o amor, que as alienações antigas e novas substituam a lúcida esperança.
Dar aula não é contar piada, mas quem dá aula sem humor não está com nada, ensinar é uma forma de oração.
Não essa oração chacoalhar de palavras sem sentido, com voz melosa ou ríspida. Mera oração subordinada, e mais nada.
Os professores apaixonados querem tudo. Querem multiplicar o tempo, somar esforços, dividir os problemas para solucioná-los. Querem analisar a química da realidade. Querem traçar o mapa de inusitados tesouros.
Os olhos dos professores apaixonados brilham quando, no meio de uma explicação, percebem o sorriso do aluno que entendeu algo que ele mesmo, professor, não esperava explicar.
A paixão é inexplicável, bem sei. Mas é também indisfarçável.
* Gabriel Perissé é Mestre em Literatura Brasileira pela FFLCH-USP e doutor em Filosofia da Educação e doutorando em Pedagogia pela USP; é autor dos livros "Ler, pensar e escrever" (Ed. Arte e Ciência); "O leitor criativo" (Omega Editora); "Palavra e origens" (Editora Mandruvá); "O professor do futuro (Thex Editora). É Fundador da ONG Projeto Literário Mosaico ; É editor da Revista Internacional Videtur -Letras (www.hottopos.com/vdletras3/index.htm); é professor universitário, coordenador-geral da ong literária Projeto Literário Mosaico: www.escoladeescritores.org.br)