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quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Texto e interpretação: Da Olivetti ao torpedo

Vai fazer 30 Natais que eu ganhei meu presente mais inesquecível. Não, não foi uma bicicleta. Foi uma máquina de escrever portátil Olivetti, modelo Lettera 22, verdinha. Vinha com uma tampa de plástico, que ao ser encaixada se transformava numa maleta. Mal abri o brinquedinho, já fui pedindo: 'Quero fazer o curso'.
Alguém aí pode explicar o que leva uma criança de 10 anos a pedir um curso de datilografia para seus pais? Hoje em dia é evidente que eu seria encaminhado a um bom psicólogo infantil - mas naquele tempo meu pai me inscreveu num curso, e pronto. Eu era o único aluno que não estava interessado em procurar emprego de auxiliar de escritório. Mesmo sem força suficiente no mindinho esquerdo para dar conta da tecla 'a', confesso que adorei. Foi amor ao primeiro asdfgçlkjh. Totalmente caxias, eu jamais olhava para as teclas. Rapidinho tornei-me um avião. Lá pelo fim do curso, fazia fácil 200 toques por minuto. Se não desse para ser escritor, já dava muito bem para ser escrivão.
Na 8a série, tive a felicidade de entrar para um colégio cujo currículo incluía... datilografia. Na aula inaugural, o professor pediu que todos os alunos batessem seus nomes à máquina. Deixei que a turma começasse: um 'tlec' solitário aqui, um 'tlec' sem convicção ali, outro 'tlec' desafinado acolá. Então respirei fundo. E mandei ver: ratatatatatatatatatatatatatatá! Todas as cabeças da sala se voltaram ao mesmo tempo na minha direção. Nunca mais viverei outro momento tão glorioso.
Nunca mais, mesmo. Depois de reinar por mais de 100 anos, o teclado - que foi inventado em 1880, não pela Olivetti, mas pela Remington - está com os dias contados. A máquina de escrever das crianças de 10 anos deste século não é nem mesmo o computador: é o celular. Crianças e adolescentes passam horas travando diálogos por escrito, como se estivessem jogando videogame.
Você já tentou escrever um torpedo no celular? Eu tentei. Na semana passada, para ser mais preciso. As 26 letras do alfabeto se escondem em apenas nove teclazinhas. Levei cinco minutos para digitar quatro palavras - e estou até agora tentando achar onde fica o ponto de interrogação. Se você souber de algum curso de datilografia-em-telefone, por favor, me avise.
Os celulares possuem poucas teclas porque na verdade quem escreve neles não tem lá muito amor pelas letrinhas. Tudo é abreviado. As vogais somem. Os acentos vão pro beleléu. Além de aprender a digitar, você tem de reaprender a escrever.
De nada adianta ter evoluído das Olivettis e Remingtons para os PCs e Macs se a gente não conseguir agora se adaptar ao celular. Caso tudo o que os fabricantes prometem acabe um dia se realizando, o celular vai tomar o lugar do computador, da máquina fotográfica, do cartão de crédito, da carteira de identidade e da chave de casa. Isso, claro, para quem aprender a mexer nele. Se eu não consigo achar nem o ponto de interrogação, como eu vou descobrir a função que abre o portão da garagem?

1. A crônica aborda um tema atual: os avanços da tecnologia.
a) Que informação você desconhecia e descobriu com a leitura do texto?
b) Qual o ponto de vista apontado no texto em relação aos avanços tecnológicos?
c) Na sua opinião, com que finalidade se atribuiu um tom humorístico aos fatos narrados no texto?

2. O narrador-personagem inicia o texto referindo-se a fatos de sua infância.
a) A que ele se refere como "presente inesquecível"?
b) Quantos anos ele tinha e qual sua reação ao receber o presente?

3. Ao iniciar o curso, o narrador-personagem rapidamente aprende a usar as teclas da máquina de escrever.
a) Que expressões empregadas evidenciam essa agilidade?
b) Ele gostou muito de teclar a máquina. Que frase comprova esse sentimento do cronista?

4. A crônica também apresenta um momento glorioso vivenciado pelo narrador-personagem na 8ª série.
a) Como ele se destaca dos seus colegas?
b) Que recursos linguísticos são empregados para ressaltar a sonoridade das teclas? O que eles sugerem ao leitor?

5. De acordo com a crônica, a máquina de escrever do momento é o celular.
a) O narrador-personagem se inclui no público usuário dessa máquina? A que tipo de público epecificamente ele se refere?
b) Como ele se sente diante dessa "máquina de escrever"?

6. Na crônica são apresentados alguns argumentos que servem para justificar o ponto de vista do narrador-personagem sobre o uso do celular.
a) Que argumento é utilizado para justificar a dificuldade em digitar as teclas do celular?
b) Ao explicar por que o celular possuiu poucas teclas, o narrador faz uma crítica implícita. O que ou quem é criticado? Por quê?

Agora esta última questão refere-se a segunda parte "apliando o texto"

7. Este texto "A revolução científica" contido na parte "apliando o texto" tem como objetivo expor a evolução científica vivenciada pelo homem.
a) A finalidade desse texto é: persuadir (convencer) o leitor, transmitir dados e informações ou relatar experiências vividas por alguns cientistas?
b) Que conteúdo ele apresenta?

Um comentário:

  1. QUERO SABER COMO FARIA UM TEXTO DISSERTATIVO TENDO COMO BASA ESSE TEXTO, O TÍTULO SERIA A EVOLUÇÃO CIENTÍFICA VIVENCIADA PELO HOMEM? OU OS AVANÇOS TECNÓLOGICOS, VC PODERIA MANDAR ALGUM TEXTO DESSA MODALIDADE E COM O TÍTULO SUGESTIVO?

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professores apaixonados

Professores e professoras apaixonadas acordam cedo e dormem tarde, movidos pela idéia fixa de que podem mover o mundo.
Apaixonados, esquecem a hora do almoço e do jantar: estão preocupados com as múltiplas fomes que, de múltiplas formas, debilitam as inteligências.
As professoras apaixonadas descobriram que há homens no magistério igualmente apaixonados pela arte de ensinar, que é a arte de dar contexto a todos os textos.
Não há pretextos que justifiquem, para os professores apaixonados, um grau a menos de paixão, e não vai nisso nem um pouco de romantismo barato.
Apaixonar-se sai caro! Os professores apaixonados, com ou sem carro, buzinam o silêncio comodista, dão carona para os alunos que moram mais longe do conhecimento, saem cantando o pneu da alegria.
Se estão apaixonados, e estão, fazem da sala de aula um espaço de cânticos, de ênfases, de sínteses que demonstram, pela via do contraste, o absurdo que é viver sem paixão, ensinar sem paixão.
Dá pena, dá compaixão ver o professor desapaixonado, sonhando acordado com a aposentadoria, contando nos dedos os dias que faltam para as suas férias, catando no calendário os próximos feriados.
Os professores apaixonados muito bem sabem das dificuldades, do desrespeito, das injustiças, até mesmo dos horrores que há na profissão. Mas o professor apaixonado não deixa de professar, e seu protesto é continuar amando apaixonadamente.
Continuar amando é não perder a fé, palavra pequena que não se dilui no café ralo, não foge pelo ralo, não se apaga como um traço de giz no quadro.
Ter fé impede que o medo esmague o amor, que as alienações antigas e novas substituam a lúcida esperança.
Dar aula não é contar piada, mas quem dá aula sem humor não está com nada, ensinar é uma forma de oração.
Não essa oração chacoalhar de palavras sem sentido, com voz melosa ou ríspida. Mera oração subordinada, e mais nada.
Os professores apaixonados querem tudo. Querem multiplicar o tempo, somar esforços, dividir os problemas para solucioná-los. Querem analisar a química da realidade. Querem traçar o mapa de inusitados tesouros.
Os olhos dos professores apaixonados brilham quando, no meio de uma explicação, percebem o sorriso do aluno que entendeu algo que ele mesmo, professor, não esperava explicar.
A paixão é inexplicável, bem sei. Mas é também indisfarçável.
* Gabriel Perissé é Mestre em Literatura Brasileira pela FFLCH-USP e doutor em Filosofia da Educação e doutorando em Pedagogia pela USP; é autor dos livros "Ler, pensar e escrever" (Ed. Arte e Ciência); "O leitor criativo" (Omega Editora); "Palavra e origens" (Editora Mandruvá); "O professor do futuro (Thex Editora). É Fundador da ONG Projeto Literário Mosaico ; É editor da Revista Internacional Videtur -Letras (www.hottopos.com/vdletras3/index.htm); é professor universitário, coordenador-geral da ong literária Projeto Literário Mosaico: www.escoladeescritores.org.br)