É necessário letrar e alfabetizar e por causa dessa afirmação que Rosaura Soligo no texto ‘Letramento-e-Alfabetização’ discute as condições favoráveis para contemplarmos esse propósito que durante muitos anos foi assumida exclusivamente pela escola. E essa prática não pode ser restringida ao espaço escolar, mas em todos os momentos de interações comunicativas. Alías, como mencionando, pelos PCNs (1998), não se refere a uma condição apenas de responsabilidade escolar.
Nesse sentido a escola tem a possibilidade de instrumentalizar todo ser humano a utilizar e refletir sobre a linguagem, em diferentes contextos de comunicação, perfazendo um direito individual e uma condição de tê-lo com posição ativa dentro da sociedade. Garantir esse direito é tarefa da educação escolar (um compromisso), uma educação escolar que assuma esse objetivo necessita de políticas públicas e gestores comprometidos com a formação dos alunos. Embora, o cenário que temos segundo a autora ainda não contempla esse ideal, ou seja, muitos são aqueles que acabam sendo alfabetizados, porém não chegam a ser letrados simultaneamente ou o inverso. Partindo dessa linha de raciocínio torna-se evidente algumas falhas nos sistemas educacionais empregados no momento, por exemplo, a progressão continuada em que os alunos são inseridos em séries subsequentes, mas não temos como mapear a quantidade que, de fato, vem sendo alfabetizada e letrada. Para caracterizar essa constatação Soligo faz alguns recortes de pesquisas que foram veiculadas em várias mídias de grande circulação.
Novamente as constatações descritas por meio das pesquisas confirmam aquilo que muitos estudiosos já sabiam, a escola precisa letrar e alfabetizar. O conhecimento é fundamental para a qualidade de vida de todo individuo e a escola é uma instituição poderosa. Conforme a autora, a maior categoria profissional do país é o magistério e que 97% das crianças brasileiras estão na escola; “pode-se ensinar muita coisa para os alunos ou negar a eles o direito de aprender”. Cabe tanto ao professor e a escola criar situações em que seus alunos aprendam
Quando se refere à aprendizagem escolar da língua escrita observa-se um ensino desintegrado, com propostas pedagógicas que favorecem a instrumentalização da língua como estrutura pronta e acabada. No entanto, a aprendizagem inicial da leitura e da escrita – a alfabetização – e o letramento – devem ocorrer simultaneamente. A falha do ensino desintegrado fica evidente quando as práticas de ensino, especialmente nas séries iniciais, não estão orientadas para formar alunos letrados, “quando são letrados, em geral, é por conta das experiências que trazem de casa, da família, dos grupos nos quais convivem”. Se isso corre, só mostra que no início da escolaridade, a preocupação tem sido basicamente a alfabetização; o ensino da correspondência entre letras e sons. Embora, a divulgação da taxa de aprovação ao final da 1ª série do ensino fundamental (IBGE/INEP)[1] tem elevados números de criança aprovadas para as séries seguintes ainda não é possível saber ao certo a quantidade de alunos que são alfabetizadas e letradas no final da 1ª série.
Segundo a autora, a realidade vem mostrando que quando o foco das práticas de ensino é a alfabetização (no sentido estrito), não se formam usuários competentes da escrita e é enorme o risco da escola “produzir” analfabetos funcionais.
“A perspectiva de alfabetização-e-letramento desde a educação infantil pressupõe a garantia de acesso à diversidade de textos e de situações comunicativas de uso da linguagem, bem como a possibilidade de refletir diariamente sobre as características e o funcionamento da escrita”. (Soligo)
Se a escola assume esse compromisso de letrar os seus alunos, ou seja, trazer para dentro da escola as situações comunicativas de fora para que eles [alunos] possam tê-la [linguagem] como uma condição de comunicação, por exemplo, em sociedade, a proposta sugerida no texto é adequada, pois orienta que os alunos tenham acesso ao maior número de diferentes textos e, acima de tudo, possam produzi-los e saibam para quem estão escrevendo e para qual objetivo. Isto é, que participem de situações de leitura, produção e revisão de textos antes, durante e depois da alfabetização por meio do contato frequente será possível ampliar seu repertório de conhecimentos e letramento.
Depois de uma longa trajetória de reflexão a respeito da alfabetização-e-letramento as contribuições acadêmicas começaram a ser incorporadas dentro do cenário escolar contemporâneo e por meio das pesquisas, confirma-se que o aprendizado não está ligado apenas ao aperfeiçoamento de habilidades – memória, coordenação motora, discriminação visual e auditiva, noção de lateralidade. Essas pesquisas entenderam que por trás da mão que escreve, do ouvido que escuta e do olho que vê, existe um ser humano que pensa e, por isso, alfabetiza-se.
As propostas no processo de alfabetização, nos dias atuais, independente da classe social a que pertencem e a da proposta de ensino do professor – faz com que as crianças formulem hipóteses muito curiosas, mas também muito lógicas.
Para Soligo o que difere essas práticas em condição, de fato, de letramento seriam as oportunidades e os momentos reais de contato com situações de leitura e escrita:
“São as situações de uso da leitura e da escrita e o valor que se dá a essas práticas sociais que configuram um ambiente alfabetizador, um contexto de letramento, e um espaço de reflexão sobre como funcionam as coisas no mundo da escrita (...)”
Quando essas práticas não são favoráveis percebe-se um cenário preocupante, ou seja, se a criança não for inserida em situações de acordo com o seu conhecimento de mundo, em muitas situações essa criança pode se sentir retraída e excluída do meio letrado, adotando posturas contra a aquisição da linguagem para a construção dos seus saberes. Esse quadro é diferente, por exemplo, em casa de crianças de classe média e alta, uma vez que essas crianças estão sendo preparadas e convivem com situações de letramento. Já as crianças de classes pobres prepararam-se para adequarem a sua vida com os entraves previsíveis frente à marginalização e violência às quais são presentes na sua realidade. Portanto, no processo ensino-aprendizagem deve-se enfatizar a formação de alunos que saibam e utilizem a leitura e a escrita durante suas práticas sócias. Segundo Rojo (2004) formar leitores cidadãos requer mais do que prepará-los para decodificar um texto, mas conduzi-los a desenvolverem diferentes habilidades (competências) cognitiva, lingüística, discursivas, etc.
[1] In Documento de Apresentação do Programa de Formação de Professores Alfabetizadores (PROFA), MEC/2001
De tudo um pouco: resenhas; atividades escolares para o Ensino Fundamental I e II, Educação Infantil, Alfabetização; Jogos; Dicas; Atividades, Planos e projetos de aula, Textos teóricos; Artesanato; Redação; Enem; Vestibular; Revistas; Artigos; Moldes; Reciclagem...
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domingo, 18 de setembro de 2011
Resenha: Letramento e Alfabetização: Rojo (2004)
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professores apaixonados
Professores e professoras apaixonadas acordam cedo e dormem tarde, movidos pela idéia fixa de que podem mover o mundo.
Apaixonados, esquecem a hora do almoço e do jantar: estão preocupados com as múltiplas fomes que, de múltiplas formas, debilitam as inteligências.
As professoras apaixonadas descobriram que há homens no magistério igualmente apaixonados pela arte de ensinar, que é a arte de dar contexto a todos os textos.
Não há pretextos que justifiquem, para os professores apaixonados, um grau a menos de paixão, e não vai nisso nem um pouco de romantismo barato.
Apaixonar-se sai caro! Os professores apaixonados, com ou sem carro, buzinam o silêncio comodista, dão carona para os alunos que moram mais longe do conhecimento, saem cantando o pneu da alegria.
Se estão apaixonados, e estão, fazem da sala de aula um espaço de cânticos, de ênfases, de sínteses que demonstram, pela via do contraste, o absurdo que é viver sem paixão, ensinar sem paixão.
Dá pena, dá compaixão ver o professor desapaixonado, sonhando acordado com a aposentadoria, contando nos dedos os dias que faltam para as suas férias, catando no calendário os próximos feriados.
Os professores apaixonados muito bem sabem das dificuldades, do desrespeito, das injustiças, até mesmo dos horrores que há na profissão. Mas o professor apaixonado não deixa de professar, e seu protesto é continuar amando apaixonadamente.
Continuar amando é não perder a fé, palavra pequena que não se dilui no café ralo, não foge pelo ralo, não se apaga como um traço de giz no quadro.
Ter fé impede que o medo esmague o amor, que as alienações antigas e novas substituam a lúcida esperança.
Dar aula não é contar piada, mas quem dá aula sem humor não está com nada, ensinar é uma forma de oração.
Não essa oração chacoalhar de palavras sem sentido, com voz melosa ou ríspida. Mera oração subordinada, e mais nada.
Os professores apaixonados querem tudo. Querem multiplicar o tempo, somar esforços, dividir os problemas para solucioná-los. Querem analisar a química da realidade. Querem traçar o mapa de inusitados tesouros.
Os olhos dos professores apaixonados brilham quando, no meio de uma explicação, percebem o sorriso do aluno que entendeu algo que ele mesmo, professor, não esperava explicar.
A paixão é inexplicável, bem sei. Mas é também indisfarçável.
* Gabriel Perissé é Mestre em Literatura Brasileira pela FFLCH-USP e doutor em Filosofia da Educação e doutorando em Pedagogia pela USP; é autor dos livros "Ler, pensar e escrever" (Ed. Arte e Ciência); "O leitor criativo" (Omega Editora); "Palavra e origens" (Editora Mandruvá); "O professor do futuro (Thex Editora). É Fundador da ONG Projeto Literário Mosaico ; É editor da Revista Internacional Videtur -Letras (www.hottopos.com/vdletras3/index.htm); é professor universitário, coordenador-geral da ong literária Projeto Literário Mosaico: www.escoladeescritores.org.br)
Apaixonados, esquecem a hora do almoço e do jantar: estão preocupados com as múltiplas fomes que, de múltiplas formas, debilitam as inteligências.
As professoras apaixonadas descobriram que há homens no magistério igualmente apaixonados pela arte de ensinar, que é a arte de dar contexto a todos os textos.
Não há pretextos que justifiquem, para os professores apaixonados, um grau a menos de paixão, e não vai nisso nem um pouco de romantismo barato.
Apaixonar-se sai caro! Os professores apaixonados, com ou sem carro, buzinam o silêncio comodista, dão carona para os alunos que moram mais longe do conhecimento, saem cantando o pneu da alegria.
Se estão apaixonados, e estão, fazem da sala de aula um espaço de cânticos, de ênfases, de sínteses que demonstram, pela via do contraste, o absurdo que é viver sem paixão, ensinar sem paixão.
Dá pena, dá compaixão ver o professor desapaixonado, sonhando acordado com a aposentadoria, contando nos dedos os dias que faltam para as suas férias, catando no calendário os próximos feriados.
Os professores apaixonados muito bem sabem das dificuldades, do desrespeito, das injustiças, até mesmo dos horrores que há na profissão. Mas o professor apaixonado não deixa de professar, e seu protesto é continuar amando apaixonadamente.
Continuar amando é não perder a fé, palavra pequena que não se dilui no café ralo, não foge pelo ralo, não se apaga como um traço de giz no quadro.
Ter fé impede que o medo esmague o amor, que as alienações antigas e novas substituam a lúcida esperança.
Dar aula não é contar piada, mas quem dá aula sem humor não está com nada, ensinar é uma forma de oração.
Não essa oração chacoalhar de palavras sem sentido, com voz melosa ou ríspida. Mera oração subordinada, e mais nada.
Os professores apaixonados querem tudo. Querem multiplicar o tempo, somar esforços, dividir os problemas para solucioná-los. Querem analisar a química da realidade. Querem traçar o mapa de inusitados tesouros.
Os olhos dos professores apaixonados brilham quando, no meio de uma explicação, percebem o sorriso do aluno que entendeu algo que ele mesmo, professor, não esperava explicar.
A paixão é inexplicável, bem sei. Mas é também indisfarçável.
* Gabriel Perissé é Mestre em Literatura Brasileira pela FFLCH-USP e doutor em Filosofia da Educação e doutorando em Pedagogia pela USP; é autor dos livros "Ler, pensar e escrever" (Ed. Arte e Ciência); "O leitor criativo" (Omega Editora); "Palavra e origens" (Editora Mandruvá); "O professor do futuro (Thex Editora). É Fundador da ONG Projeto Literário Mosaico ; É editor da Revista Internacional Videtur -Letras (www.hottopos.com/vdletras3/index.htm); é professor universitário, coordenador-geral da ong literária Projeto Literário Mosaico: www.escoladeescritores.org.br)
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