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sábado, 11 de fevereiro de 2012

Há de se lutar pela mudança

*Paty Fonte

Finalmente as questões educacionais estão na mídia. Talvez o avanço tecnológico esteja ajudando, pois através da internet todos se expressam: professores, pais, alunos...
Como educadora, inquieta que sou, pensadora e pesquisadora dos temas ligados à educação, fico feliz com as discussões e debates. Acredito que não há mudança sem troca de experiências, sem reflexão, sem estímulo.
Li nas redes sociais depoimentos de alunos assim: “A escola emburrece. A parte ruim do sistema educacional não se resume à péssima equipe de professores, à péssima estrutura da escola e afins. Os adolescentes não gostam da escola porque ela obriga eles a serem assim. Não é preguiça, não é "falta de motivação por parte dos pais". Existe um sistema muito maior por trás disso tudo. A escola precisa de uma revolução TOTAL para passar a ser uma ótima instituição.”
“Professor é pago para ensinar ou para passar conteúdo? Existem professores que entram na sala de aula para passar lição e copiarmos,saindo da classe sem explicar absolutamente nada do tema que fora passado alegando que são pagos para passar 'conteúdo' , isto aconteceu comigo hoje após eu ter ido na coordenação reclamar.Eu achava que professores eram formados e remunerados para instruir os alunos,não deixá-los inferior ao que já estão achando que se recebe tudo de mão beijada,como o professor que é remunerado por escrever uma bíblia na lousa achando que todos entenderão.”


Muitos professores sentem-se desvalorizados, humilhados e injustiçados quando lêem algo do tipo. Afinal, são muitos os problemas educacionais como recentemente a Profª Amanda Gurgel, de forma corajosa e precisa transmitiu em rede nacional. Por outro lado, negar que há uma grande verdade nos depoimentos dos alunos é enganarmos a nós mesmos. Chega a ser hipocrisia.

Não podemos generalizar alegando que todos os professores são mal formados e realizam o trabalho de forma precária. Isso não! Todavia, existem aqueles que estão professores e não o são por vocação. É ainda bastante comum nas escolas a mera transmissão de conteúdos, prontos e acabados, desvinculados à vida real dos alunos, sem espaço para crítica. Há uma preocupação excessiva em preencher livros e cadernos com temas estanques, sem análise, sem debate, sem espaço para a fala do aluno, para a pesquisa, para a prática da descoberta.
Preocupa-me o fato de muitos profissionais acreditarem que essa é a melhor maneira de ensinar. E aqui não me refiro apenas a rede pública de ensino, mas também e, principalmente, a rede privada. Tantas vezes as escolas com muitos recursos financeiros pautam-se nesses e esquecem-se do seu papel social. Vejo claramente escolas com poucos recursos realizando trabalhos grandiosos, com profissionais engajados e preocupados.
É evidente que temos que lutar por todos os direitos, temos que garantir a melhor estrutura possível. É óbvio que os professores precisam ser bem remunerados e valorizados. Isso é indiscutível. Porém, não aceito discursos do tipo: “faço qualquer coisa, não sou paga para fazer melhor.” Assim, não há luta. Há comodismo. Tais falas e ações reforçam a desvalorização, passam a concretizar motivos de desrespeito e descrédito.
Na mesma rede social uma professora alega: “Com turmas de dez alunos as professoras de ensino fundamental da escola púbica poderemos ensinar habilidades de leitura, escrita e convívio social com mais eficiência. A escola como é organizada atualmente com excesso de alunos por sala explora as professoras acabando com nossa saúde.Nos doamos muito e temos pouco respeito da sociedade, além das agressões morais e psicológicas constantes.”
Perfeita colocação. Mas, eu presenciei várias escolas, da rede privada, com classes de 10 alunos, até menos, onde acontece exatamente o oposto. E aí, o que dizer?
Penso que são duas lutas distintas, mas ambas essenciais, de suma importância. Uma a de melhores condições e apoio do governo: como tem sido bem representada pela Profª Amanda Gurgel, outra a de mudança de postura dos professores.
Independente da metodologia, filosofia ou técnica de ensino vivemos na era da informação, do bombardeio dela inclusive. Vivemos na era do imediatismo, do consumismo, dos vícios, das famílias desestruturadas, da falta de valores, da correria, do stress. Paralelo a isso, hoje para se conseguir um bom emprego não basta ter cultura e conhecimento técnico, é preciso saber relacionar-se, respeitar as diferenças, argumentar na hora certa, saber ouvir e contra-argumentar, criar, inovar e sensibilizar.
Já ouvi de professores “pérolas” do tipo: “Interpretar textos em sala de aula é perda de tempo.” Também já ouvi relatos do tipo: “São os alunos que não querem aprender, são todos indisciplinados.”
O que é indisciplina? O que gera a desmotivação? Todos são indisciplinados?
Da mesma forma que nós professores nos desmotivamos com poucos recursos e baixos salários os alunos se desmotivam com aulas pautadas em monólogos, cópias e decorebas.
Precisamos aprender a lidar com essa nova geração, com o mundo atual e avançar. Isso implica em mudança de paradigmas, sobretudo implica em humildade. Por sermos professores não sabemos tudo, não temos receitas, não somos os donos da verdade. É preciso estar disposto a aprender tanto quanto a ensinar. É preciso a pesquisa, a observação, a reflexão. É fundamental o desejo de que a escola seja o verdadeiro espaço de aprendizagem.
Aprendizagem em conjunto. Juntos podemos buscar novos caminhos, vislumbrar possibilidades que atendam aos reais interesses da vida que temos a encarar.
Tudo isso implica em inteligência emocional. Não creio que seja fácil, mas creio que estamos no caminho e precisamos nos unir para reunir forças.
Aqueles que preferem parar no tempo, sem inovação, sem tentativa, sem ousadia, serão vencidos pelo cansaço de “dar murro em ponta de faca”. Serão tragados pelo infortúnio do passado que não retornará como um “passe de mágica.”

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professores apaixonados

Professores e professoras apaixonadas acordam cedo e dormem tarde, movidos pela idéia fixa de que podem mover o mundo.
Apaixonados, esquecem a hora do almoço e do jantar: estão preocupados com as múltiplas fomes que, de múltiplas formas, debilitam as inteligências.
As professoras apaixonadas descobriram que há homens no magistério igualmente apaixonados pela arte de ensinar, que é a arte de dar contexto a todos os textos.
Não há pretextos que justifiquem, para os professores apaixonados, um grau a menos de paixão, e não vai nisso nem um pouco de romantismo barato.
Apaixonar-se sai caro! Os professores apaixonados, com ou sem carro, buzinam o silêncio comodista, dão carona para os alunos que moram mais longe do conhecimento, saem cantando o pneu da alegria.
Se estão apaixonados, e estão, fazem da sala de aula um espaço de cânticos, de ênfases, de sínteses que demonstram, pela via do contraste, o absurdo que é viver sem paixão, ensinar sem paixão.
Dá pena, dá compaixão ver o professor desapaixonado, sonhando acordado com a aposentadoria, contando nos dedos os dias que faltam para as suas férias, catando no calendário os próximos feriados.
Os professores apaixonados muito bem sabem das dificuldades, do desrespeito, das injustiças, até mesmo dos horrores que há na profissão. Mas o professor apaixonado não deixa de professar, e seu protesto é continuar amando apaixonadamente.
Continuar amando é não perder a fé, palavra pequena que não se dilui no café ralo, não foge pelo ralo, não se apaga como um traço de giz no quadro.
Ter fé impede que o medo esmague o amor, que as alienações antigas e novas substituam a lúcida esperança.
Dar aula não é contar piada, mas quem dá aula sem humor não está com nada, ensinar é uma forma de oração.
Não essa oração chacoalhar de palavras sem sentido, com voz melosa ou ríspida. Mera oração subordinada, e mais nada.
Os professores apaixonados querem tudo. Querem multiplicar o tempo, somar esforços, dividir os problemas para solucioná-los. Querem analisar a química da realidade. Querem traçar o mapa de inusitados tesouros.
Os olhos dos professores apaixonados brilham quando, no meio de uma explicação, percebem o sorriso do aluno que entendeu algo que ele mesmo, professor, não esperava explicar.
A paixão é inexplicável, bem sei. Mas é também indisfarçável.
* Gabriel Perissé é Mestre em Literatura Brasileira pela FFLCH-USP e doutor em Filosofia da Educação e doutorando em Pedagogia pela USP; é autor dos livros "Ler, pensar e escrever" (Ed. Arte e Ciência); "O leitor criativo" (Omega Editora); "Palavra e origens" (Editora Mandruvá); "O professor do futuro (Thex Editora). É Fundador da ONG Projeto Literário Mosaico ; É editor da Revista Internacional Videtur -Letras (www.hottopos.com/vdletras3/index.htm); é professor universitário, coordenador-geral da ong literária Projeto Literário Mosaico: www.escoladeescritores.org.br)