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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Avaliação de aprendizagem: entre o discurso e a realidade


No debate educacional brasileiro, é comum nos depararmos com a falsa dicotomia entre avaliação externa e as provas feitas pelo próprio professor. De um lado, a avaliação dos professores é apresentada de forma positiva: o professor é o único capaz de avaliar o processo de aprendizagem e, portanto, suas conclusões seriam sempre mais contextualizadas, abrangentes e justas. De outro, a avaliação externa enfrenta a resistência de alguns profissionais da educação: ela estaria apenas direcionada a um resultado quantitativo, levando a uma análise reducionista e simplista do aluno. Mas será que isso corresponde à realidade das nossas salas de aula?
Segundo a pesquisadora Bernardete Gatti, da Fundação Carlos Chagas, os professores não sabem avaliar seus alunos nem compreendem a complexidade ou os resultados da avaliação externa. Simplesmente porque eles nunca aprenderam a fazer isso. Segundo Bernardete, apenas 1% dos cursos de Pedagogia analisados por ela em uma pesquisa apresenta disciplinas com foco na avaliação. Não é de surpreender, então, que na hora de avaliar os alunos, muitos professores acabem produzindo “provas incoerentes, feitas ‘no joelho’, que não foram pensadas com nenhum referencial didático contemporâneo”, como afirma a pesquisadora.
À mesma conclusão chegou o pesquisador uruguaio Pedro Ravela. Em um estudo comparativo entre oito países latino-americanos, ele entrevistou 160 docentes de escolas com bom desempenho no exame Segundo Estudo Regional da Qualidade da Educação (SERCE), desenvolvido pela Unesco, e analisou 4.360 atividades e provas elaboradas por estes professores para serem aplicadas em suas aulas. Ravela constatou que “apesar da ênfase que o discurso pedagógico coloca no pensamento crítico e na reflexão, nas salas analisadas predominam as propostas de corte notadamente conteudista, sem contexto real plausível, de discutível relevância e cuja resolução requer processos extremamente simples” (leia também a entrevista com Pedro Ravela).
Uma das recomendações de Ravela para melhorar este quadro é de que os professores devem ser preparados para elaborar não só avaliações, mas atividades didáticas mais complexas e desafiadoras. Para isso, precisamos ter claro o que desejamos que os alunos sejam capazes de fazer ao final de um determinado período (mês, bimestre, semestre, ano ou ciclo escolar). Sem estes parâmetros, não podemos esperar que os professores elaborem atividades, tarefas e questões que demonstrem se seus alunos atingiram o patamar almejado ou em que ponto eles estão no caminho da construção do conhecimento. E é exatamente isso que a metodologia utilizada na maioria das avaliações externas faz.
A diminuição das resistências a estas avaliações, com a compreensão técnica de seu potencial e, consequentemente, a sua incorporação aos cursos de formação de professores seriam importantes passos na melhoria das nossas salas de aula.
Artigo publicado na edição de dezembro de 2011 da revista Profissão Mestre.   Paula Louzano 

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professores apaixonados

Professores e professoras apaixonadas acordam cedo e dormem tarde, movidos pela idéia fixa de que podem mover o mundo.
Apaixonados, esquecem a hora do almoço e do jantar: estão preocupados com as múltiplas fomes que, de múltiplas formas, debilitam as inteligências.
As professoras apaixonadas descobriram que há homens no magistério igualmente apaixonados pela arte de ensinar, que é a arte de dar contexto a todos os textos.
Não há pretextos que justifiquem, para os professores apaixonados, um grau a menos de paixão, e não vai nisso nem um pouco de romantismo barato.
Apaixonar-se sai caro! Os professores apaixonados, com ou sem carro, buzinam o silêncio comodista, dão carona para os alunos que moram mais longe do conhecimento, saem cantando o pneu da alegria.
Se estão apaixonados, e estão, fazem da sala de aula um espaço de cânticos, de ênfases, de sínteses que demonstram, pela via do contraste, o absurdo que é viver sem paixão, ensinar sem paixão.
Dá pena, dá compaixão ver o professor desapaixonado, sonhando acordado com a aposentadoria, contando nos dedos os dias que faltam para as suas férias, catando no calendário os próximos feriados.
Os professores apaixonados muito bem sabem das dificuldades, do desrespeito, das injustiças, até mesmo dos horrores que há na profissão. Mas o professor apaixonado não deixa de professar, e seu protesto é continuar amando apaixonadamente.
Continuar amando é não perder a fé, palavra pequena que não se dilui no café ralo, não foge pelo ralo, não se apaga como um traço de giz no quadro.
Ter fé impede que o medo esmague o amor, que as alienações antigas e novas substituam a lúcida esperança.
Dar aula não é contar piada, mas quem dá aula sem humor não está com nada, ensinar é uma forma de oração.
Não essa oração chacoalhar de palavras sem sentido, com voz melosa ou ríspida. Mera oração subordinada, e mais nada.
Os professores apaixonados querem tudo. Querem multiplicar o tempo, somar esforços, dividir os problemas para solucioná-los. Querem analisar a química da realidade. Querem traçar o mapa de inusitados tesouros.
Os olhos dos professores apaixonados brilham quando, no meio de uma explicação, percebem o sorriso do aluno que entendeu algo que ele mesmo, professor, não esperava explicar.
A paixão é inexplicável, bem sei. Mas é também indisfarçável.
* Gabriel Perissé é Mestre em Literatura Brasileira pela FFLCH-USP e doutor em Filosofia da Educação e doutorando em Pedagogia pela USP; é autor dos livros "Ler, pensar e escrever" (Ed. Arte e Ciência); "O leitor criativo" (Omega Editora); "Palavra e origens" (Editora Mandruvá); "O professor do futuro (Thex Editora). É Fundador da ONG Projeto Literário Mosaico ; É editor da Revista Internacional Videtur -Letras (www.hottopos.com/vdletras3/index.htm); é professor universitário, coordenador-geral da ong literária Projeto Literário Mosaico: www.escoladeescritores.org.br)