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quarta-feira, 20 de julho de 2011

EU SOU ASSIM: Derrubar muros e construir pontes.

Sempre sonhei com o dia em que poderia afirmar que construí algumas pontes e derrubei vários muros. Hoje, apesar de ainda haver muitos muros para serem erguidos e imensas e longas pontes a serem construídas, ainda assim posso dizer que me orgulho de, ao menos, ter iniciado minhas “reformas”!
Sei que já cheguei muito mais longe do que todos que me conheceram na infância imaginavam...
Aquela menina tímida, extremamente carente de bens materiais, carinho, atenção, aprendeu a lutar pelo que quer, a batalhar por seus sonhos! Hoje, peca por falar demais, por expor demais sua opinião, mas não mais por ficar calada e ser uma marionete em mãos bizarras e insanas.
Confesso que ainda guardo muito da ingenuidade infantil, da sensibilidade, da intuição. Ainda dou risadas quando estou nervosa, o que resulta sempre em rir fora de hora... Mas um dia eu cresço!!!
Quando criança, dizia que queria ser professora. Minhas primas - meninas riquinhas e metidas, que me esnobavam e desfilavam lindas bonecas as quais eu não podia sequer tocar, e roupas novas maravilhosas (pra quem só tinha roupas usadas) e que jamais me deram uma única peça usada - riam na minha cara, diziam que eu nunca seria nada. Elas sim seriam professoras. Acreditei. Desisti. Deixei de querer. Ao menos por fora...
Elas fizeram magistério, receberam o diploma, e nunca deram aula... Viraram donas de casa.
Eu também, por algum tempo, me contentei em ser dona de casa. Meus filhos cresciam, minha idade aumentava, o vazio jorrava... Passava as manhãs atarefada, mas a tarde vinha e com ela os pensamentos, aquela sensação de vazio que ninguém vê, mas que sabemos que está ali, latejando como um espinho bem pequenininho...
O inexplicável me tomava.
Resolvi voltar a estudar. E aí me confrontei com a surpresa. O quê? Uma velha (quase 30) mãe de família, estudar? Que bobagem!
Bom, o certo é que terminei o Ensino Médio, fiz Enem e ganhei uma bolsa integral. Licenciatura (Letras), claro. Cursei toda a faculdade sem sequer uma vez ficar em Grau C (recuperação). Tinha nota superior a de minhas colegas adolescentes oriundas de colégios particulares. Lia todos os livros obrigatórios e mais os que eu achava que me ajudariam. Fiz voluntariado. Fiz estágios. No mesmo ano em que me formei, peguei contrato no estado. Dou aula em duas escolas, tenho treze turmas e amo meus alunos. Curso Pedagogia, e faço uma Pós-graduação. Meus filhos continuam lindos!
Percebi que dá pra construir pontes em qualquer idade, e apesar de qualquer barreira. Construí a ponte do amor com meus filhos, construí a ponte do conhecimento, e hoje a construo com meus alunos. Essas são construções que não acabam nunca!
Derrubei muitos muros também. Do desamor, da descrença, do preconceito, da miséria material e sentimental, da hipocrisia, da insegurança...
Ainda tenho muitos sonhos: construir uma biblioteca pública, proporcionar esperança aos meus alunos, que em sua maioria, são crianças em situação de risco, ajudar a tirá-los do crime, das drogas, do lixo, da miséria...
Sei que o caminho é longo, mas sei que algum dia sentirei orgulho de minhas “construções”.
Aos meus alunos, conto: pra construirmos uma ponte, precisamos acreditar.

profª Valéria Riet
E.E.E.F. ALVARENGA PEIXOTO- POA/RS

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professores apaixonados

Professores e professoras apaixonadas acordam cedo e dormem tarde, movidos pela idéia fixa de que podem mover o mundo.
Apaixonados, esquecem a hora do almoço e do jantar: estão preocupados com as múltiplas fomes que, de múltiplas formas, debilitam as inteligências.
As professoras apaixonadas descobriram que há homens no magistério igualmente apaixonados pela arte de ensinar, que é a arte de dar contexto a todos os textos.
Não há pretextos que justifiquem, para os professores apaixonados, um grau a menos de paixão, e não vai nisso nem um pouco de romantismo barato.
Apaixonar-se sai caro! Os professores apaixonados, com ou sem carro, buzinam o silêncio comodista, dão carona para os alunos que moram mais longe do conhecimento, saem cantando o pneu da alegria.
Se estão apaixonados, e estão, fazem da sala de aula um espaço de cânticos, de ênfases, de sínteses que demonstram, pela via do contraste, o absurdo que é viver sem paixão, ensinar sem paixão.
Dá pena, dá compaixão ver o professor desapaixonado, sonhando acordado com a aposentadoria, contando nos dedos os dias que faltam para as suas férias, catando no calendário os próximos feriados.
Os professores apaixonados muito bem sabem das dificuldades, do desrespeito, das injustiças, até mesmo dos horrores que há na profissão. Mas o professor apaixonado não deixa de professar, e seu protesto é continuar amando apaixonadamente.
Continuar amando é não perder a fé, palavra pequena que não se dilui no café ralo, não foge pelo ralo, não se apaga como um traço de giz no quadro.
Ter fé impede que o medo esmague o amor, que as alienações antigas e novas substituam a lúcida esperança.
Dar aula não é contar piada, mas quem dá aula sem humor não está com nada, ensinar é uma forma de oração.
Não essa oração chacoalhar de palavras sem sentido, com voz melosa ou ríspida. Mera oração subordinada, e mais nada.
Os professores apaixonados querem tudo. Querem multiplicar o tempo, somar esforços, dividir os problemas para solucioná-los. Querem analisar a química da realidade. Querem traçar o mapa de inusitados tesouros.
Os olhos dos professores apaixonados brilham quando, no meio de uma explicação, percebem o sorriso do aluno que entendeu algo que ele mesmo, professor, não esperava explicar.
A paixão é inexplicável, bem sei. Mas é também indisfarçável.
* Gabriel Perissé é Mestre em Literatura Brasileira pela FFLCH-USP e doutor em Filosofia da Educação e doutorando em Pedagogia pela USP; é autor dos livros "Ler, pensar e escrever" (Ed. Arte e Ciência); "O leitor criativo" (Omega Editora); "Palavra e origens" (Editora Mandruvá); "O professor do futuro (Thex Editora). É Fundador da ONG Projeto Literário Mosaico ; É editor da Revista Internacional Videtur -Letras (www.hottopos.com/vdletras3/index.htm); é professor universitário, coordenador-geral da ong literária Projeto Literário Mosaico: www.escoladeescritores.org.br)