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domingo, 19 de agosto de 2012

Gramática com textos: 7º ano - período simples e ordem direta



Introdução 
Esta é a sexta de uma série de 16 sequências didáticas que fazem parte de um programa de estudo de gramática para 6º a 9º ano do Ensino Fundamental. Confira ao lado todas as aulas da série.
Objetivos 
Analisar a construção de períodos simples a partir do verbo e suas variações morfossintáticas. 
Refletir sobre a construção de sentenças que respeitam a ordem direta. 
Analisar a ordem de elementos indicativos de circunstâncias de tempo e de lugar na construção dos períodos simples. 
Conteúdos - Período simples e ordem direta 
Tempo estimado - Cinco aulas 

Desenvolvimento 
Antes de começar a aula, leia a experiência abaixo, realizada pelo linguista Ataliba Teixeira de Castilho.

Texto de apoio ao professor
Na Nova Gramática do Português Brasileiro, Ataliba Teixeira de Castilho propõe ao leitor uma brincadeira. Ele deve dizer a um amigo as seguintes palavras:

encher 
propaganda 
final de ano 
intervalo 
comercial 
enjoativamente 

Ataliba pensa em duas reações possíveis. Se de bom humor, o amigo pode indagar ao leitor se ele brinca de dicionário ambulante; caso contrário, poderá inferir a sua loucura. A salvação virá, diz o professor, se o proponente organizar os dados lexicais, transformando-os em uma construção aceitável. Ele dá o exemplo: 

"Seguinte: para mim, a propaganda de final de ano enche enjoativamente os intervalos comerciais."

A brincadeira proposta pelo autor da gramática é o ponto de partida para discutir o princípio de projeção, "que associa a transitividade, a colocação e a concordância num só impulso de criação linguística", e o de colocação dos termos na sentença proferida. Nesse bloco de aulas, o conteúdo gira em torno do período simples e da ordem direta dos termos na oração. O objetivo é permitir aos alunos a percepção da língua como instância de determinações e liberdade. 

1ª etapa 
Proponha aos seus alunos uma brincadeira similar à construída pelo professor Ataliba. Apresente a eles o exercício abaixo. Explique que foram escolhidas duas manchetes de jornal redigidas na ordem direta (Sujeito Verbo Complemento), cada uma com um único verbo. As preposições, artigos e conectivos foram suprimidos e os verbos foram retirados. Com isso, foram feitas essas duas listas de palavras. A tarefa é reordenar cada bloco, relacioná-lo com um dos verbos e recriar a manchete. 

Peça que os alunos se coloquem em duplas para realizar a atividade. Explique a eles que uma das manchetes foi retirada do caderno Cotidiano e a outra, do Ciência do jornal Folha de S.Paulo. Essa informação é importante, pois ela cria um universo de expectativa na mente dos alunos e ativa as possíveis escolhas.

Exercício:

Verbos: a) derrotam   
                                          b) provoca 
seco                               África 
tempo                          elefantes 
hospitais                     formigas 
filas

Dê um tempo para que realizem a atividade. Para iniciar a correção, pergunte aos alunos sobre as estratégias utilizadas para criar as manchetes. Analise os dois verbos junto com a turma. O verboprovocar, no sentido de ocasionar, pressupõe que alguém ou alguma coisa provoque/ocasione outra coisa. Isso coloca a necessidade de dois termos com os quais o verbo se relaciona. O mesmo ocorre com o verbo derrotar. 

A escolha dos termos aos quais os verbos se relacionam e o papel ocupado por esses termos na manchete - sujeito ou predicado - vinculam-se à ordem da colocação deles na sentença e à concordância. Assim, o verbo derrotam, devido à marca de plural, associa-se a um sujeito que esteja no plural. Isso coloca como possibilidade de sujeito as palavras: formigas, elefantes, filas e hospitais. O verbo provoca, por sua vez, liga-se a um sujeito no singular e, nesse caso, as palavras a serem escolhidas são: tempo, seco, África. 

Analise a palavra seco. Ela é um adjetivo, qualifica outro termo com o qual compartilha gênero e número; assim, associa-se a um termo singular e masculino. A expressão tempo seco apresenta-se como provável sujeito do verbo provocar. Respeitando a determinação da escolha da ordem direta, teríamos as seguintes manchetes como possíveis:


Tempo seco provoca (ocasiona) filas em hospitais. 
África provoca (ocasiona) elefantes e formigas. 
Filas derrotam ar seco em hospitais. 
Elefantes e formigas derrotam África. 
Elefantes derrotam formigas na África. 
Formigas derrotam elefantes na África.


Analise com os alunos cada uma das possíveis manchetes. Gramaticalmente todas respeitam as regras dadas - possuem um único verbo e estão redigidas na ordem direta. 

Indague-os, então, se todas são plausíveis, ou seja, são possíveis no nosso mundo dentro de determinadas condições. Essa reflexão é interessante, pois a manchete construída com as palavras da primeira coluna é plausível - Tempo seco provoca filas em hospitais - ao passo que a realizada com as palavras da segunda coluna é, à primeira vista, inusitada, embora verdadeira: Formigas derrotam elefantes na África. 

Discuta com os alunos a importância do verbo na construção das sentenças: ele dá pista sobre os termos a ele vinculados. Essa importância, diga a seus alunos, ocorre também no processo de leitura: o verbo nos permite identificar, por meio da sua desinência, a quem ele remete. 

2ª etapa 
Entregue aos alunos as duas notícias referentes às manchetes que foram analisadas.

Formigas derrotam elefantes na África
GIULIANA MIRANDA DE SÃO PAULO SABINE RIGHETTI COLABORAÇÃO PARA A FOLHA 

Às vezes, até uma formiga é capaz de vencer um elefante. Não se trata de mais um refrão de autoajuda: é justamente isso que acontece quando certas espécies desses insetos vivem em acácias. 
Pesquisadores notaram que elefantes (Loxodonta africana) das savanas da África ao sul do Saara, que devoram folhas e galhos de muitas espécies de árvores, não chegavam perto de um tipo de acácia (conhecida como Acacia drepanolobium). 
Os cientistas descobriram que quatro espécies de formigas (Crematogaster mimosae, C. nigriceps, C. sjostedti e Tetraponera penzigi) protegem as árvores onde moram dos ataques dos elefantes. 
A estratégia é simples: elas entram nas trombas e começam a picar e morder suas partes internas. Ao contrário do couro do elefante, que é muito resistente, a tromba tem muitas terminações nervosas extremamente sensíveis. 
Isso não acontece com as girafas. Devido à sua superlíngua, esses animais conseguem "varrer" as formigas das folhas para se alimentar. 
Aparentemente, os elefantes são os únicos animais vulneráveis aos ataques. 

SEM FORMIGAS 
Os pesquisadores realizaram um experimento de 12 meses e verificaram que, sem formigas, os elefantes voltavam a se alimentar normalmente dessas acácias. 
A densidade de árvores e a quantidade de elefantes está diretamente relacionada na África. Quando as populações dos animais aumentam, a quantidade de árvores diminui --o que significa redução de absorção de CO2. 
"A cobertura das árvores regula o ecossistema como um todo, incluindo a absorção de carbono e a dinâmica da alimentação dos bichos", diz Todd Palmer, da Universidade da Califórnia, um dos autores do estudo. 
Por isso, os pesquisadores estão avaliando a possibilidade de usar as formigas como barreiras naturais para proteção das árvores. O estudo foi publicado na revista "Current Biology". 

Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/794353-formigas-derrotam-elefantes-na-africa.shtml. Acesso em 08 de set. 2010 

Tempo seco provoca filas em hospitais
SÍLVIA FREIRE LUIZ GUSTAVO CRISTINO DE SÃO PAULO 

O final de semana continuou seco durante o final de semana no Estado de São Paulo, com as cidades do interior do Estado registrando os piores índices de umidade relativa do ar, com reflexo imediato no atendimento de saúde. 
Havia filas para atendimento de pacientes com doenças respiratórias em hospitais. Em Presidente Prudente (542 km de São Paulo), onde a umidade relativa do ar chegou a 6%, segundo a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de SP). 
"Pela nossa experiência, o fluxo de pacientes dobrou", disse a enfermeira Daniele de Oliveira, da Santa Casa de Misericórdia da cidade. 
Nos postos de saúde de São José dos Campos (97 km de São Paulo), o número de atendimentos aumentou 20%, segundo a prefeitura. 
"Mesmo na manhã de domingo, que costuma ser mais tranquila, o pronto-socorro estava cheio", disse a enfermeira Adriana Fernandes, do Pronto-Socorro Municipal de Avaré (267 km de São Paulo). 
Segundo o médico André Santana, do Hospital Beneficência Portuguesa de Bauru, a baixa umidade resseca as vias respiratórias superiores, o que aumenta a incidência de problemas respiratórios. 
Em outras cidades do Estado, como Ribeirão Preto (313 km de São Paulo), os valores da umidade foram inferiores a 20%. Em Araçatuba (527 km de São Paulo), o índice chegou a 12%. Abaixo desse patamar, a situação é de emergência, segundo a Organização Mundial de Saúde. 

INCÊNDIOS 
A Defesa Civil e os bombeiros de São José dos Campos estão em alerta devido aos incêndios. Os focos aumentaram 100% em relação ao mesmo período de 2009. 
Em Piracicaba (160 km de SP), havia, no sábado, três grandes incêndios sendo combatidos e seis pedidos de atendimento, segundo os bombeiros. 
Em Araras, onde não chove há 47 dias, os níveis dos reservatórios que abastecem a cidade estão baixos e há risco de racionamento de água.

Peça que leiam os textos em dupla. Solicite que redijam uma nova manchete para as notícias, utilizando outro verbo, no presente do indicativo e a ordem direta. Faça a correção da tarefa. Peça que cada dupla leia uma das manchetes criadas. 
Como tarefa para casa, proponha que os alunos encontrem quatro manchetes de jornais que utilizem a ordem direta e apresentem um único verbo. As manchetes devem ser copiadas no caderno. 

3ª etapa 
Realize a correção da tarefa proposta para casa na aula anterior. Em seguida, mostre aos alunos que as manchetes das notícias lidas na aula anterior continham, além do sujeito, do verbo e complemento, um elemento indicativo de lugar: em hospitais e na África. Esses elementos podem ser deslocados para o início ou para o meio da sentença. Isso modifica a ênfase no que está sendo dito e acrescenta informações ao título, especificando-o. 


Assim poderíamos ter:
Em hospitais, tempo seco provoca filas. 
Tempo seco provoca, em hospitais, filas.
Ou
Na África, formigas derrotam elefantes. 
Formigas derrotam, na África, elefantes.

Nenhuma dessas manchetes causaria estranhamento no leitor. Isso ocorreria, entretanto, se o sujeito, no caso dessas duas manchetes, fosse posposto ao objeto. Nesse caso, as construções seriam as seguintes:
Filas, tempo seco provoca em hospitais. 
Elefantes, formigas derrotam na África.

Afirme aos alunos que as inversões da ordem direta são possíveis e bastante comuns na literatura, sobretudo na poesia. Essas inversões, diga a eles, estão associadas aos efeitos de sentido que se quer produzir. Elas podem dificultar a leitura e é devido a isso que a atenção do leitor não pode vacilar no seu contato com o texto. 

Apresente aos alunos o poema Enquanto morrem as rosas de Manuel Bandeira.

Enquanto morrem as rosas

Morre a tarde. Erra no ar a divina fragrância. 
Fora, a mortiça luz do crepúsculo arde. 
Nas árvores, no oceano e no azul da distância 
Morre a tarde ... 

Morrem as rosas. Minhas pálpebras se molham 
No pranto das desesperanças dolorosas. 
Sobre a mesa, pétala a pétala, se esfolham, 
Morrem as rosas... 

Morre o teu sonho? ... Neste instante o pensamento 
Acabrunha o meu ser com um pesar medonho. 
Ah, por que temo assim? Dize, neste momento 
Morre o teu sonho?... 
BANDEIRA, M. Estrela da Vida Inteira. São Paulo: Círculo do Livro, 1998.

Leia-o e peça que identifiquem as inversões realizadas e, em duplas, discutam os efeitos de sentido provocados pela colocação do verbo morrer antes do seu sujeito.
4ª etapa
Inicie a aula, relendo o poema junto com os alunos. Identifique as inversões realizadas e solicite que as suprimam, estabelecendo a ordem direta.  Um exemplo é o período Erra no ar a divina fragrância. Colocando-o na ordem direta tem-se A divina fragrância erra no ar. 

Veja se os alunos perceberam que o verbo morrer antecede o sujeito em todas as suas ocorrências. Essa anteposição, discuta com eles, reforça o verbo, enfatiza a ação de morrer, que está em primeiro plano, e não o ser que morre. Essa ação, observe, apresenta-se no poema de forma gradativa - morre a tarde, morrem as rosas, morre o teu sonho. 
Outro elemento pode ser analisado com os alunos. O verbo morrer, diferente dos verbos provocar ederrotar, presentes nas manchetes dadas na primeira aula, não necessita de um complemento; ele se associa apenas ao sujeito. Peça que pensem e digam algum outro verbo que, semelhante a esse, esteja vinculado apenas a um sujeito e não necessite de complemento para que seu sentido se realize. 

Mostre a eles também como os indicadores de circunstâncias de tempo e de lugar - formados por uma (fora) ou várias palavras (nas árvores, no oceano e no azul da distância) - localizam-se ora no início ora no meio ou no fim do período. 

Avaliação 
Proponha a realização de um exercício similar ao do início desse bloco de aulas. Escolha duas manchetes de jornal e proponha aos alunos as seguintes atividades: 
1) Reconstituição das manchetes, partindo da análise do verbo e dos elementos que a ele se associam. A ordem direta deve ser respeitada. 
2) Expansão das manchetes construídas com o acréscimo de uma circunstância de tempo ou de lugar. 

Informe aos alunos que uma das manchetes foi retirada do caderno Cotidiano e a outra do Folhateen, caderno dedicado aos jovens do jornal Folha de S. Paulo.

Exercício:
Verbos: Criam 
Precisará 
Garotos 
Autoescola 
Manobras 
Moto 
Novas 
Nova 
Radicais 
Manobras 
Mais


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professores apaixonados

Professores e professoras apaixonadas acordam cedo e dormem tarde, movidos pela idéia fixa de que podem mover o mundo.
Apaixonados, esquecem a hora do almoço e do jantar: estão preocupados com as múltiplas fomes que, de múltiplas formas, debilitam as inteligências.
As professoras apaixonadas descobriram que há homens no magistério igualmente apaixonados pela arte de ensinar, que é a arte de dar contexto a todos os textos.
Não há pretextos que justifiquem, para os professores apaixonados, um grau a menos de paixão, e não vai nisso nem um pouco de romantismo barato.
Apaixonar-se sai caro! Os professores apaixonados, com ou sem carro, buzinam o silêncio comodista, dão carona para os alunos que moram mais longe do conhecimento, saem cantando o pneu da alegria.
Se estão apaixonados, e estão, fazem da sala de aula um espaço de cânticos, de ênfases, de sínteses que demonstram, pela via do contraste, o absurdo que é viver sem paixão, ensinar sem paixão.
Dá pena, dá compaixão ver o professor desapaixonado, sonhando acordado com a aposentadoria, contando nos dedos os dias que faltam para as suas férias, catando no calendário os próximos feriados.
Os professores apaixonados muito bem sabem das dificuldades, do desrespeito, das injustiças, até mesmo dos horrores que há na profissão. Mas o professor apaixonado não deixa de professar, e seu protesto é continuar amando apaixonadamente.
Continuar amando é não perder a fé, palavra pequena que não se dilui no café ralo, não foge pelo ralo, não se apaga como um traço de giz no quadro.
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Dar aula não é contar piada, mas quem dá aula sem humor não está com nada, ensinar é uma forma de oração.
Não essa oração chacoalhar de palavras sem sentido, com voz melosa ou ríspida. Mera oração subordinada, e mais nada.
Os professores apaixonados querem tudo. Querem multiplicar o tempo, somar esforços, dividir os problemas para solucioná-los. Querem analisar a química da realidade. Querem traçar o mapa de inusitados tesouros.
Os olhos dos professores apaixonados brilham quando, no meio de uma explicação, percebem o sorriso do aluno que entendeu algo que ele mesmo, professor, não esperava explicar.
A paixão é inexplicável, bem sei. Mas é também indisfarçável.
* Gabriel Perissé é Mestre em Literatura Brasileira pela FFLCH-USP e doutor em Filosofia da Educação e doutorando em Pedagogia pela USP; é autor dos livros "Ler, pensar e escrever" (Ed. Arte e Ciência); "O leitor criativo" (Omega Editora); "Palavra e origens" (Editora Mandruvá); "O professor do futuro (Thex Editora). É Fundador da ONG Projeto Literário Mosaico ; É editor da Revista Internacional Videtur -Letras (www.hottopos.com/vdletras3/index.htm); é professor universitário, coordenador-geral da ong literária Projeto Literário Mosaico: www.escoladeescritores.org.br)